Sentiu o barulho do seu empregado a entrar:
- Hans, chega aqui!
Hans Fritz usava no pescoço um fio com uma medalha com a forma de um losango, com uma caveira sobre duas tíbias a negro sobre um fundo branco, e vestia a farda negra da Ordem sempre que estava com Kurt Kuntz:
- sieg heil!
- sieg heil!
- Longa vida para o Reich!
-Longa vida para o Reich, senhor !
Saiu uma saudação extremamente vigorosa.
- Já trocámos o outro funcionário, foi transferido para um departamento no estrangeiro – informou Hans Fritz
- E o outro assunto?
- O caso está encerrado.
-Então?
-Prescreveu.
-E aquela outra questão?
-Já estão garantidos os meios de financiamento, vendemos a participação e ainda conseguimos que o pagamento seja feito pelos dois lados.
-E no outro fundo que também temos?
-Conseguimos vender a nossa parte!
-Eles cumpriram as nossas ordens?
-Queriam fazer uma derrapagem no orçamento, mas nós não permitimos; não era boa ideia.
-São sempre os mesmos, temos que estar sempre a apertá-los, estão sempre a tentar trafulhar.
- É preciso ter um comando firme, uma estratégia nítida e um objectivo claro.
- Acha que se lhes exigirmos que cumpram o acordo eles aguentam?
-Ai aguentam, aguentam. Os serviçais sabem sempre qual é vontade do senhor!

Vivia numa quinta a norte do Porto, não muito longe em linha reta para o mar, onde estavam submersos os submarinos.

Era assistido por oito funcionários, quatro mercenários no centro informático, mais um piloto-aviador, mais dois empregados domésticos e um médico que seguia o método Mengele: maltratava os doentes no seu trabalho, mas era serviçal com o seu “dono”.

A casa tinha uma sala que funcionava como centro de comunicações, com computadores e os monitores das câmaras de vigilância que estavam colocadas pela propriedade. Havia também uma sala com armamento ligeiro. O cérebro da casa, o centro informático, estava preparado para se incendiar de forma a que não restassem vestígios.

A casa, aparentemente, também não tinha bunker. Tinham optado por construir uma pequena pista e um hangar com um avião a jacto preparado para a fuga.

Mas como viviam num território dominado, faziam uma segurança preventiva; em caso de um previsível ataque a ordem era retirar imediatamente. Só em caso de dificuldade real, se houvesse necessidade extrema, se fossem capturados, Kurt Kuntz podia recorrer a uma cápsula de veneno

Toda a propriedade estava armadilhada. Quando chegassem ao avião e partissem, um minuto depois de levantarem voo, toda a propriedade seria detonada provocando uma gigantesca explosão; estava tudo programado para que, cinco minutos após a retirada, desaparecessem todos os sinais da presença daquele núcleo.

Os seus progenitores eram o general Donitz e a mãe dele, uma das amigas mais chegadas da senhora Eva von Braun. Tinha nascido a 20 de abril de 1930; era por isso alguém com um sinal especial.

As referências ao percurso de vida do alemão começavam quando entrou para a Ordem, apenas com um ano. A sua mãe sabia que lhe iam retirar o filho logo que chegasse a altura, porque era filho de um dos mais importantes dirigentes do III Reich.

Foi criado de uma forma espartana. Aos cinco anos já pertencia a uma classe especial, mas apesar de ser objeto de um tratamento diferente, durante o colégio foi um dos melhores alunos e um dos mais aplicados; desde cedo aprendeu a importância do valor do trabalho laborioso que dignifica e liberta

Pertenceu à milícia dos Elkes, que era uma unidade especializada dentro da Ordem de Adamir; era uma brigada de elite, parecida com uma guarda pretoriana.

O objetivo principal deles era concretizar o Plano Wannsee, executaram o processo de seleção e realizaram as deportações, conduzindo ao genocídio das raças ditas inferiores.

Perto do final da guerra, em 1944, foi destacado para a frente russa.

Tinha então 14 anos.

Fugiu de Leningrado com mais três camaradas de armas, todos das brigadas dos Elkes. Tinham com eles um sistema de navegação desenvolvido pela fábrica de motores da Baviera.

À saída da cidade encontraram um grupo de Finlandeses, oito soldados que estavam escondidos na floresta, juntos quase que formavam, de novo, uma brigada.

Três finlandeses, com paus e peles, fizeram um disfarce de urso gigante; um deles era a cara do urso, os outros dois seguravam-no.

Colocaram-se no caminho por onde passava um tanque russo. Estavam a tremer de medo, já não aguentavam mais; quando de repente o tanque T40 russo parou. Já não tinha mais combustível.

Então Kurt Kuntz e o resto do bando assaltaram o tanque. Os finlandeses fizeram o melhor que eles sabem fazer, sodomizaram os soldados russos; finlandês que consiga cometer tal proeza é considerado herói nacional.

Depois seguiram caminho.
De Leningrado passaram por Pskov, Minsk, Varsóvia e finalmente, Berlim.
Pararam nos campos de concentração, em Rumbula, Ponary, Treblinka, Chelmno, que estavam abandonados. Encontraram fornos crematórios ainda a queimar, valas com corpos e pilhas enormes de cadáveres amontoados.
Em Chelmno entraram numa caserna, trocaram e vestiram os uniformes dos cadáveres.
Continuaram a viagem até Berlim, onde se entregaram às forças aliadas.

Durante um interrogatório, mostraram o número da Ordem que tinham na parte interior da coxa e a tatuagem no tornozelo. Foram entregues à Ordem de Adamir.

Kurt Kuntz era muito independente e determinado; havia uma pessoa de que ele gostava mesmo: Rudolf Hess, que tinha sido amigo do seu pai.

Mas quem lhe tinha deixado um legado muito importante fora outro amigo de seu pai, Heinrich Himmler, que lhe deixou uma casa de férias em Rijeka.

Todas as noites Kurt Kuntz jantava com a sua empregada Maria e com Hans Fritz, que era o seu coordenador, o seu menino e era neto de Heinrich Himmler.

- Uma das coisas que me recordo bem é daquela história que o meu tio contava do comandante que foi fazer uma inspeção ao centro de tecnologia social em Dachau.

- Resolveu passear pelo campo enquanto tratava dos assuntos com o meu tio. 

- A certa altura os guardas, que andavam com os cães, passaram junto dos prisioneiros que estavam a trabalhar e os cães foram para a beira dos prisioneiros, porque eram os únicos que os tratavam bem, começaram a ladrar, a saltar, a brincar.

De repente, o comandante parou, ficou imóvel, passados uns instantes pegou na pistola e matou todos os prisioneiros.

- Levem estes cães para um sítio seguro!



- Depois o comandante confidenciou ao meu tio o que se passou quando entraram na frente leste e estavam a caminho de Varsóvia.

- Levavam uma carrinha com cães dobermans e pastores alemães. Quando chegaram a uma aldeia decidiram parar e soltaram os cães. Numa das casas junto à estrada, habitada por ciganos, um senhor deu água aos cães, mas um dos doberman viu um boneco que estava com uma criança de dois anos e atacou a criança; o pai em desespero pegou num machado e desfez o cão. Depois os soldados começaram a preparar a caravana, falaram com o pai da miúda que tinha ficado completamente desmembrada, totalmente desfeita, mas antes de prosseguirem a viagem mataram toda a família e com tiros dos canhões dos tanques arrasaram a casa.

- O comandante disse ao meu tio que, quando sentiu os cães a ladrar, lembrou-se dos latidos agonizantes desse cão.


Depois do jantar, levantou-se e foi até ao armário onde guardava as armas, deu um murro na porta de vidro, cortou a mão, pegou nas peças e montou uma arma com silenciador.

Foi para a varanda virada para o interior da propriedade, pegou num apito que estava em cima de uma mesinha; começou a ouvir o barulho dos cães.

A seguir largaram vários cães vadios que eles recolhiam nas ruas próximas da propriedade.

Abateu quase todos; só dois conseguiram afastar-se, mas foram embater contra uma cerca eletrificada que eles tinham no final do pátio.

Depois, sentou-se no sofá na varanda; estava na penumbra, bebeu uma poncha e ouviu a mesma música de sempre – Valquíria de Richard Wagner.

Em cima do corpo tinha uma manta escura pesada, era uma mancha negra pequena mas comprida, só duas manchas claras permitiam dizer que estava ali alguém.

A cara era encovada e estreita mas comprida a afunilar para o queixo pequeno, com os olhos ovais pequenos cinzentos, nebulosos e esmorecidos. O cabelo ralo fino e curto, a testa alta, o nariz estreito e longo, os lábios finos, mas o de baixo mais grosso, as orelhas salientes, as mãos grandes, compridas, longas. A pele macilenta, um pouco enrugada, com as faces ainda vermelhas. Era um corpo magro, seco e firme, resistente a todas as provas de endurecimento de caracter, para se manter convicto no princípio de que o trabalho liberta, que era um dos principais lemas da ordem.

Na sala-de-estar, Kurt Kuntz tinha em cima de uma mesa uma miniatura de um tanque panzer em cima do candelabro de sete braços judeu e a Tórah aberta com partes do texto sublinhado e com anotações: “ é preciso eliminar o mal”, “temos que destruir todos os usurários e todos os agiotas judeus que controlam o fluxo monetário”.

Numa das paredes da sala tinha várias fotografias; uma fotografia grande, na casa da montanha no ninho da águia, com Adolf Hitler, Reinhard Heydrich, Martin Bormann e Ernest Kaltenbrunner, todos sentados em confortáveis sofás.
Os retratos de Golda Meir e Ben Gurion, modificados com desenhos obscenos, uma fotografia grande da entrada de um campo de concentração, outra fotografia de um grupo do Ku Klux Klan a linchar negros, uma de Hendrik Werwoerd e várias fotografias de Salazar, uma durante a exposição universal do mundo português e outras dos anos 60, da receção aos atletas depois do campeonato mundial de futebol de 1966.
No centro de outra parede, um quadro com a cruz suástica e uma inscrição – mil anos para o III Reich e à direita perto da janela, um manequim com a farda completa das SS
Estava ali a recordar as suas memórias…

"Não provocamos mal ao mundo, dominamos o mundo".

"Nós pertencemos à única espécie com importância, somos os únicos seres superiores, da raça ariana pura, superior a tudo.

" Hitler foi um joguete e não foi por acaso que subiu ao poder, tínhamos que encontrar uma figura que fizesse de líder forte.

"Sempre existiu entre nós um sentimento de total sintonia sobre as medidas de opressão que devem ser tomadas no decurso do tempo".

Depois começou a ler algumas anotações da agenda de Alfred Rosenberg:

- Também nós, durante os anos trinta, construímos várias urbanizações residenciais permanentes; com essa solução resolvemos, de imediato, o problema a milhares de pessoas.

- Aprendemos bastante com as experiências que fazíamos nas fábricas, que nós chamávamos de linha de montagem final.

- Eram instalações que geralmente estavam situadas nos bosques, tinham  magnificas condições para atividades de lazer, com campos  verdes para a prática de exercício físico.

Lembro-me de ver, logo à entrada, um letreiro que dizia “arbeit mach frei”.

As pessoas chegavam, eram tantas, faziam filas, parecia  que vinham para um espectáculo; estavam despreocupadas, muito bem vestidas, saíam dos comboios muito bem dispostas. 

Primeiro eram encaminhadas para uma zona residencial, que era muito funcional.

De um lado havia uma torre, de onde saíam duas coisas: o fumo, com um cheiro característico e as cinzas, que eram utilizadas como fertilizante nos campos circundantes. Mais tarde construíram-se instalações para sauna e banhos turcos e utilizava-se um bálsamo para depurar, que tinha um efeito lento mas eficaz.

As gentes daqueles lugares estavam serenas… pudera, eram lugares acolhedores. Daí seguiam para outro lugar muito mais tranquilizante.

Eram centros de educação para o trabalho com as suas chaminés fumegantes;

aproveitávamos esses voluntários para lhes ensinar que o trabalho dignifica e se for um trabalho laborioso transforma-se num trabalho que liberta, depois ficavam preparadas para iniciarem um novo caminho.

Eu adorava as nossas fábricas de transmutação social; eram o exemplo prático da afirmação da nossa teoria, do nosso pensamento.

Era um ambiente inebriante, encantatório e exultante. Estar naquela atmosfera era uma felicidade suprema; digo mais, quando eu ia a Treblinka e via a concretização de tudo o que eu sinto e penso, era um momento de êxtase de realização absoluta de todo o meu ser...

" Falava-se que teria havido casos de recurso a trabalho escravo durante a guerra; acho que está provado que tal não existiu, o que chamam de solução final; 

"o que houve foram algumas experiências inovadoras em determinados locais para verificar qual o aumento da produtividade.

"Quando esses trabalhadores não estão motivados devemos incentivá-los, devemos mostrar-lhes a dureza e a complexidade do seu trabalho; 

"por isso o que existiu foi, sim, um movimento operário com uma dedicação extrema e que levavam o seu esforço até à exaustão, depois, quando se apercebiam, já estavam no descanso eterno, 

"portanto se houve o recurso a esse movimento operário completamente comprometido e dedicado à causa final foi para demonstrar o nosso domínio económico".

Enquanto lia a agenda de Rosenberg, lembrou-se do que viu em Auschwitz-Birkenau. Com 12 anos foi visitar aquele campo de concentração. Quem pertencia às forças especiais dos elkes tinha que fazer um estágio, Kurt Kuntz escolheu Auschwitz-Birkenau. Para ele foi um acontecimento marcante poder acompanhar o trabalho pioneiro do dr Joseph Mengele:

 “ Só ele conseguia fazer experiências extremamente belas; o nosso estimado e mestre doutor Josef Mengele começou e desenvolveu o estudo da eugenia, através das nossas experiencias nesse âmbito, verificamos que se deve promover a extinção das raças inferiores, os latinos, os judeus, os ciganos, os doentes mentais e os homossexuais, enfim, tudo o que é uma aberração deve ser exterminado, porque só prejudicam o superior desenvolvimento da nossa raça”.

E depois do que o seu grande mestre lhe dizia: – “wir alle sind tiere”.

 “ A vida é uma luta natural; utiliza os instintos de sobrevivência animal”

A ideologia social transformista acreditava na ordem natural, aceitava a desigualdade natural entre as pessoas, e a ideia de que não somos todos iguais e de que não temos todos as mesmas capacidades. No domínio do forte sobre o fraco.

A ordem natural determina o domínio do forte sobre o fraco e que o fraco deve ser extinto logo aos primeiros sinais de debilidade. As condições naturais devem ser mantidas, o rigor da vida assim o exige. O equilíbrio das forças é sempre reposto; o mais forte domina o mais fraco e este subjuga-se. Estes são os princípios básicos da condição humana. Nós somos animais naturais: não há transcendência, no entanto, criaram-se rituais morais que dão algum conforto.

“ Por duas vezes a Alemanha estendeu o seu domínio por toda a Europa”.

O nazismo foi uma experiência ainda mais vigorosa e dura para erguer ao máximo o limite dos fortes.

Quando esse período terminou, os Aliados ficaram impressionados com o que descobriram, com o nível tecnológico, com a variedade dos produtos da indústria química, com a qualidade do armamento, dos aviões messerschmitt, junckers, do poder de fogo de artilharia dos tanques panzer, da tecnologia dos foguetões que estava quase no final da exploração.

Transferiram os principais cientistas para Los Alamos.

Por fim os Aliados deslocalizaram tudo, levaram os “tesouros nazis”.

Lembrou-se da sua primeira missão, no âmbito da luta contra a ameaça subversiva do comunismo.

Aconteceu no início dos anos sessenta. Queriam infiltrar células para fazerem a revolução na Alemanha Ocidental. O grupo estava a ganhar bastante força. Foi a célula de Essen que executou o ataque terrorista, raptaram um dos mais poderosos industriais. Fugiram ao cerco que lhes fizeram até chegarem a uma igreja em Frankfurt. Fizeram reféns, um padre e quatro freiras.

O carro da pequena célula do grupo revolucionário de extrema-esquerda estava estacionado no parque da igreja, junto com os carros da polícia. No final, quando revistaram o carro, encontraram o corpo do industrial assassinado na bagageira.

Disseram que faziam explodir a igreja, começaram com as negociações. Disseram que se rendiam, mas primeiro fizeram sair as freiras nuas para a rua.

Depois saíram, começaram a disparar e foram abatidos; mas um deles ficou dentro da igreja.

Os polícias entraram e viram que eles tinham partido a estátua de Lutero e tinham colocado um busto de Staline. Quando chegaram ao altar viram o outro elemento do grupo:

– Estava à vossa espera camaradas!

Puxou um fio e deu-se a explosão

Quando aquilo terminou, viram que estava na sacristia uma rapariga e um menino pequenino. A mãe era uma das freiras.
Viu a mãe correr nua e depois cair ao chão inanimada. 
O menino pequenino não percebeu a razão para tanta violência, mas memorizou a farda da ordem.
Mais tarde, um dia, quando Kurt Kuntz ia a sair de casa e estavam a entregar pizzas, é que se apercebeu da importância desse momento. Era o menino pequenino, só que, naquela altura, mais crescido. Matou a mulher e o filho de Kurt Kuntz.
A partir daí ele tornou-se ainda mais inflexível. Passou a viver com um só desígnio, estraçalhar, aniquilar tudo aquilo que não estivesse de acordo com os ideais da Ordem de Adamir.

Do que se conhecia tudo leva a pensar que a Ordem de Adamir estaria organizada por um conselho superior do supremo comando - fuhrung, em divisões - abteilung e em brigadas - brigaden.

 “Ficamos na parte ocidental, mas estávamos devidamente seguros, nessa altura era mais fácil passar despercebido, estávamos numa fase de reconstrução, era preciso organizar tudo de novo".

"A Ordem foi integrada e manteve a sua autonomia e era consultada para as decisões que era necessário tomar para controlar, de novo, o modo como deve estar organizada a sociedade.

"Na realidade, só perdemos mais uma batalha; logo a seguir recuperámos o domínio do poder e conseguimos captar pessoas muito influentes para a causa da “neu ordenung”

As primeiras missões demonstraram o seu caracter determinado, insensível e o sangue frio perante as contrariedades no combate contra o maior inimigo deles, a conspiração judaico-comunista.

Era preciso criar uma sociedade como eles pretendiam; por isso, depois da guerra colocaram-no no departamento das relações externas.

Pela experiência acumulada e porque era o que tinha melhor curriculum, chamaram-no para uma tarefa mais exigente, controlar a neutralidade colaborante da fronteira sul, para continuarem com o seu movimento de expansão territorial.

Mais tarde, foi nomeado “Kommandant auf abteilung des Sudland”.

O ministério da economia estava a gastar muito dinheiro com a promoção da internacionalização das empresas.

Raquel estava a fazer um trabalho de investigação e ao mesmo tempo, estava também atrás da pista que o seu tio lhe deu.

Foi fazer uma auditoria a uma empresa alemã multinacional
de eletrónica.

- Isto aqui é como o Paraguai, é tudo nosso!

Kurt Kuntz era o presidente do conselho executivo da administração da empresa.

- Este sítio é permissivo a tudo!

- Estas gentes daqui são uns preguiçosos, aldrabões, mentirosos, oportunistas, corruptos, vaidosos e pretensiosos. Não têm organização e não gostam de trabalhar.

Estava a fumar, continuou a andar em direção a Luísa, que era uma funcionária e apagou o cigarro na mão dela.


 -Durante os nossos anos gloriosos de 1933-42 controlávamos indirectamente, todo o sul da europa.

-Tínhamos do nosso lado quatro aliados poderosíssimos: a França, do Marechal Petain, a Itália, de Mussolini, a Espanha, de Franco e Portugal, de Salazar,

- Todos regimes fascistas ultra-conservadores de direita, eram o nosso orgulho.


- Mais tarde, durante a guerra fria, foi necessário controlar esta zona sul, a sua posição  geoestratégica é muito importante e, como eu já tinha experiência em "táticas de guerrilha" contra movimentos de extrema-esquerda e

 não podíamos permitir que este sítio (atrasado e pobre) ficasse na esfera da influência soviética, não se podia permitir que passasse para o bloco comunista; de início, era essa a ideia  principal da nossa missão.


- Quando aqui chegamos, encontrámos carne para canhão.
Onde encontrar quem quisesse enfrentar o desconhecido, marinheiros que aguentaram tudo e não se importaram de morrer nas águas oceânicas iniciais e infinitas. Onde encontrar gente tão dócil, que se submete às condições extremas do rigor imposto pela ordem.

 - Uma revolução nunca é boa, solta todas as  forças criadoras de liberdade, proporciona todas as formas de oportunismo. 

-A democracia é um jogo, temos que dissimular a nossa vontade de dominar.

-A ditadura é a melhor solução, é onde a força se liberta, onde há ordem, onde o mais forte consegue impor a sua vontade de dominar, sem contemplação pela mísera existência do mais fraco.

- A revolta que os reformistas provocaram só trouxe uma
consequência, deu início a uma classe média inconsequente, esbanjadora e perdulária, originou uma condição artificial que não é sustentável. É impossível manter a estrutura que eles criaram, não há meios financeiros disponíveis para tanta inutilidade.

- Durante um certo período conseguiram subir ao poder,
tinham ideias de liberdade, igualdade e fraternidade. São tão básicos e fracos!
Só pensam em liberdade, fazem demagogia fácil, não conseguem exterminar,
perdoam a quem os ofende, não têm coragem para eliminar quem os oprime.


-Também houve uma outra situação, durante uma operação em
que estávamos a fazer a inspeção das pessoas que chegavam do ultramar.

Vários funcionários faziam o controlo dos documentos e dos
passaportes e alguns revistavam as pessoas; 

um deles começou a importunar uma mulher; fez-me lembrar uma situação semelhante, quando estive em Auschwitz-Birkenau e vi um prisioneiro a lutar com um cão por causa de comida; surgiu um guarda e deu dois tiros no prisioneiro.

-Não resisti, fiz a mesma coisa, caminhei na direção do funcionário, puxei da minha pistola e dei-lhe vários tiros na cabeça, logo!

- Não houve mais confusão durante o resto do dia.


- Vou acrescentar só este aspeto curioso: depois do 25 de Abril, nos primeiros anos de instabilidade,  tentámos controlar o perigo que representava o armamento não declarado, disperso  por quem não conhecíamos; além disso, tivemos uma reunião secreta com um grande traficante de armamento para negociar as condições sobre como seria para fornecer armamento mais sofisticado. 
Escolhemos um sítio que não levantasse suspeitas; já era noite quando terminámos a reunião. Íamos a sair da casa quando ouvimos um barulho vindo do céu, por pouco não nos caiu em cima uma  avioneta.


-Começamos logo a pensar: - será que é castigo divino?

- Mas este sítio é a primeira zona a entrar no novo ciclo

-É a primeira gente a entrar na nova ordem, segundo a lei nazi.

- Sieg heil!


Pelas 11:30 horas chegou o Dr Gervásio, João Miguel Sottomayor  Saavedra Gervásio;  era um antigo funcionário público ultramarino, foi  secretário-geral da fazenda pública, era o maior especialista de cobrança  de impostos; 

tinha estabelecido o record da maior receita obtida através do pagamento de impostos.Um êxito que nunca mais conseguiria ser estabelecido apesar dos esforços recentes. 

Era o revisor oficial de contas da empresa e um bom colaborador, não se importava de obedecer cegamente às ordens de Kurt Kuntz.


- Venha daí, já estamos juntos desde a conferência de Berlim!

O tema da conversa entre eles era sobre o tempo que
passaram nas antigas colónias africanas. Kurt Kuntz ainda passou algum tempo na Líbia, depois foi para a Namíbia e depois, para uma missão alemã em Angola.

- Acreditávamos, cegamente, na separação da sociedade por
raças. Havia lugares próprios para os brancos e o resto para os negros; os colonos brancos deviam viver nas cidades, os negros indígenas no mato; no fundo era tudo muito a preto e branco.

- Só existiam duas soluções possíveis, uma declaração
unilateral de independência e por outro lado, combater ao máximo contra as pretensões dos movimentos africanos de libertação.


-Na exploração dos territórios ultramarinos utilizávamos os
indígenas como meios para obtermos as matérias-primas; por sorte tínhamos força de trabalho conforme com a nossa política económica, mão-de-obra a custo zero, ou seja, a exploração da mão-de-obra não era contabilizada no preço das mercadorias.

- Nós não considerávamos os negros escravos, eram
simplesmente coisas sem direitos, que estavam ali, adstritos ao serviço produtivo; eram nossa propriedade, podiam ser utilizados sob qualquer forma de exploração.


- Os negros têm um cheiro corporal adocicado, enjoativo,
pestilento, têm uma cara muito primitiva e um crânio pouco desenvolvido com uma forma estranha, pertencem a um grupo de primatas primitivos que permaneceram sempre carbonizados.

-Há um grupo entre eles que pensa que são de castas
superiores: são pretos que querem ser brancos, mas se não há ascensão social como é que eles esperam que haja ascensão racial? Estão sempre a aparecer escarumbas que querem ser brancos e defendem sempre os nossos princípios.

- Uma das coisas que me impressionou em África foi a capacidade para albergar tantos animais; há lá lugar para todos eles.


Acreditava que o território ultramarino caminhava já há
alguns anos para a independência, que iria acontecer com ou sem influência dos acontecimentos que ocorriam na metrópole.

- Fiquei desolado quando aqui cheguei, achei tudo muito
sujo e imundo. Fiquei admirado com o desleixo das pessoas, mal vestidas, de barba por fazer, mas, sobretudo, uma alegria que não parecia natural. Encontrei um povo que tinha uma cultura própria, embora analfabeto, mas que, no entanto, demonstrava os valores próprios da nação.

- Estou convencido que África vai ser um mercado de trabalho, tanto para os trabalhadores desqualificados como para os desclassificados.


Raquel e Sofia estavam a comemorar um dia muito especial, o aniversário de Sofia. O apartamento delas era muito diferente, tinha uma decoração pouco normal e estava organizado de uma maneira pouco convencional; era completamente surpreendente.

Há dois anos que estavam juntas, desde que Raquel voltou da união europeia. Trabalhou na comissão dos assuntos económicos e financeiros, mas tiveram que a chamar de volta, descobriram que ela tinha um caso com a mulher de um dos comissários finlandeses.

Era formada em economia. Tirou o curso na universidade de Columbia, nos Estado Unidos da América.

No chão da sala estavam a saia e o casaco, a camisa branca e os sapatos baixos. Era muito formal nas roupas que usava, não queria mostrar nenhuma característica pessoal.

Raquel era contra a desigualdade social.

Todas as manhãs ia ao mesmo café e dirigia-se para a banca dos jornais e comprava " O Vanguarda".

No jornal, onde escrevia artigos de opinião, começou por publicar artigos sobre a liberdade sindical, a liberdade de expressão, dos direitos das minorias, legalização das drogas, co-adopção de crianças por casais do mesmo sexo, violência contra as mulheres. Queria seguir certa linha de pensamento; com isso aumentou a sua exposição em defesa dos ideais sociais.

Tinha vários projetos em estudo, fez um artigo onde defendia a legalidade democrática, o estado de direito social, o humanismo e o progresso, mas os artigos eram truncados. As "crónicas" que fazia eram, geralmente, rejeitadas, porque ela descobria sempre o sentido do caminho da nova sociedade.

No jornal conheceu um jovem engenheiro informático, que lhe contou porque tinha decidido emigrar.

O rapaz disse-lhe que tinha sido vítima de um truque que os investidores, empreendedores e inovadores com tendências liberais, costumavam usar.

Fez o erasmus em Itália e um estágio na Olivetti.Foi ele quem concebeu uma linguagem de programação que se utilizava cada vez mais.

Uma empresa nacional queria comprar-lhe o software por 100.000€, mas durante as negociações descobriu que iam vender a empresa por 700.000€. No fundo, o empresário queria vender o software sem trabalho nenhum. Era um desses novos investidores de sucesso empreendedores e inovadores com tendências liberais.

Mas o rapaz, passado algum tempo, foi fazer uma apresentação aos Estados Unidos da América; dois dias depois deram-lhe uma resposta: compraram-lhe o software por 1 milhão e 200 mil€ e uma bolsa de 10.000€/mês para continuar a desenvolver programas.


- Os investidores de sucesso, empreendedores e inovadores com tendências liberais, são os agentes portadores do vírus do mercado: o "expeculativus". Só querem fazer negócios, mas não produzem nada.

- Os investidores de sucesso são ambiciosos, vaidosos, pretensiosos, desleais, oportunistas, mentirosos, calculistas; não têm escrúpulos, executam tudo o que se lhes manda e até mais e pior do que isso, são corruptos.

- É necessário internacionalizar as empresas num mundo globalizado!

- Os empresários de sucesso só querem pagar o mínimo possível pelo trabalho dos outros; a maneira como se aproveitam do trabalho...

- O género das pessoas que se movimentam na economia de mercado, estabelecem uma competição muito feroz. Quem não consegue atingir os objetivos é logo excluído. Assim, as relações laborais procuram eliminar qualquer obstáculo, isso transforma-se numa competitividade muito mais exigente; só os mais aptos conseguem aceder a algum rendimento, são acima de tudo capachos. Por isso, as relações laborais normais tornam-se relações naturais de extermínio.

- É necessário ser mais empreendedor competitivo e inovador do que os outros!

- Eles insistem em que os outros criaram a ilusão de que se pode chegar ao sucesso, mas eles sabem que não é assim, porque eles cortaram a possibilidade de se chegar ao sucesso.

Raquel achava que eles estavam a fazer o mesmo nos serviços públicos; desregulamentavam tudo e terminavam com os organismos fiscalizadores.

- Vão alimentando, com essas ideias, uma sociedade a caminho da extinção... e os irredutíveis continuam convictos de que assim é.

- O problema deles é a avareza!

- Será que lhes prometeram alguma coisa ou ficaram deslumbrados com a possibilidade de pertencerem a algum status superior com que sempre sonharam?

- Não achas que estamos a entrar no novo mundo?


Sofia era morena, magra, com cabelo escuro fino e comprido, pintado de azul. Estava a dar aulas na Universidade do Porto e estava a fazer uma tese de doutoramento e também era assessora jurídica de um grupo empresarial angolano.

Esteve no seu escritório a trabalhar. Tinha uma cliente com cancro, em fase terminal, com duas filhas, uma de seis e outra de três. Era divorciada e o pai não se interessava pelas meninas; já tinha outra família, com uma filha de cinco e outra de dois. 

Pela segunda semana consecutiva tentava consultar o processo mas dava sempre erro do sistema. Estava a passar por uma crise existencial, já não acreditava na justiça nem conseguia trabalhar direito.

Sofia contou-lhe o que tinham feito numa empresa, sua cliente. O filho de um amigo do diretor tinha entrado para um lugar de assessor executivo e, ao mesmo tempo, tinham terminado o contrato com 8 trabalhadores que faziam a distribuição das publicações.

Estavam no sofá, enroladas uma na outra, debaixo de um edredon. Em frente, a televisão fazia algum ruído, estava na parte da publicidade; alguns minutos depois começou um documentário, sobre um método de vendas.

Tinha sido um vendedor de automóveis, inglês, que no período de governo de Margaret Tatcher ficou desempregado. Durante esse tempo, escreveu um livro sobre as novas tendências na indústria automóvel; era um manual prático de técnicas de vendas no comércio automóvel.

Consistia num método inovador de vendas, que se tornou um sucesso. O livro chamava-se "Car Salesman Guide"

Nessa altura a indústria automóvel inglesa, com marcas de prestígio, foi desmantelada e vendida de forma perdulária. O grupo automóvel onde ele trabalhava foi à falência, porque a classe média ficou sem dinheiro suficiente para comprar esses carros por aqueles preços.

Mas argumentavam que o problema não era esse. O custo de produção dos automóveis é que era muito caro. Então o que era preciso fazer?

-Vender e Deslocalizar.

Venderam as participações a outros investidores. Os lords ficaram com o dinheiro e milhares de trabalhadores ficaram desempregados.

Era mais uma vez o caminho para uma revolução necessária.

"Car Salesman Guide" baseava-se na aplicação prática da lei do equilíbrio natural para restabelecer harmonia universal.

Partia dos seguintes princípios:

- Esta vida é uma passagem dos sentidos, onde tudo é aparência, fictício.

- A matéria é um acessório, é a representação física da ilusão.

- Obediência e resignação, assim manterás a tua condição; obedece ao que está determinado, assim:

a)- Os senhores procedem de tal maneira que só nos resta acreditar na ordem natural, por isso obedece fielmente à vontade do senhor.

b) - Os iguais juntam-se para lutar entre si, para provar quem é o mais forte;

c) - O gordo, obeso e doentio, procura o magro;

d) - O baixo procura o alto;

e) - O predador, a presa;

f) - O escudeiro nunca chegará a cavaleiro e, se este não ajudar, o escudeiro morre";

g) - O teu comportamento deve obedecer aos dois sentimentos mais importantes: o egoísmo e a ganância;

h) - Quando encontrares alguém em dificuldades, não te preocupes; aquilo passa;

Praticando esse modelo de virtudes e não pondo em causa as condições dadas, tudo ocorreria normalmente, qualquer um conseguia tornar-se o melhor vendedor aos olhos do chefe.

- É como a lei da perfeição moral!

- Cumprirás com todas as tuas obrigações e mais alguma!

Entrevistaram também um outro vendedor que tinha uma opinião contrária.

Para ele aquele livro devia chamar-se "o livro da nova classe de escravos na indústria automóvel",

Estava montada uma máquina de tirar dinheiro às pessoas.

Dava-se-lhes um bem e ficava-se com uma renda.

Os vendedores eram utilizados como meios para atingir um objetivo, vender. Vender cada vez mais, mesmo a crédito; o que interessava era ganhar cada vez mais dinheiro. 

Para ele, teria sido alguém que lançou esse livro para conformar o novo comportamento dos vendedores dentro da indústria automóvel empreendedores, dinâmicos e ativos. Os vendedores tinham que atingir esses objectivos, para isso ganhavam cada vez menos e trabalhavam cada vez mais horas e tinham atrás de si o fantasma da precariedade.

Depois começou outro programa, anunciava um fenómeno recente da melhoria das condições económicas, referia que a competitividade tinha aumentado, o que fazia com que fosse mais fácil atrair investimento. Mas era mesmo assim?

Para isso, tinham entrevistado um cidadão da Coreia do Sul, de Seul, que estava interessado em fazer um investimento.

Perguntaram-lhe quais as principais vantagens para se fazer um investimento e o que o impressionou mais:

- O clima é bom, as pessoas são simpáticas, muito agradáveis e o custo de vida é extremamente barato e tendo em conta o modo de ser destas pessoas, é seguro trazer para cá a nossa família.

Por isso ia fazer um investimento, ia comprar uma casa por 500 mil euros.

A última reportagem era sobre a generosa oferta que uma rapariga de 16 anos tinha feito a uma clínica veterinária.

Os hostels estavam na moda: em todos os cantos havia uma casa transformada em hostel. Num desses vários apartamentos para arrendar estava um grupo de turistas. Três raparigas estavam no quarto quando começaram a ouvir gritos na rua. Era uma velhota que estava a pedir socorro porque uma mulher grávida estava a sentir-se mal e estava deitada no chão. A casa ao lado era uma clínica veterinária. Uma rapariga nova saiu da clínica e começou a prestar assistência à mulher grávida, mas já era tarde para a deslocarem. Chegaram mais três jovens, tudo ocorreu na rua. As três raparigas, à janela assistiram a tudo; estavam surpreendidas:

-Ficámos completamente espantadas, foi uma coisa tão natural!

Depois foram à clinica e uma delas ofereceu férias pagas no Dubai, durante três meses, e fornecimento de material durante dezoito meses para a clínica.

Essa rapariga era filha do CEO de uma das maiores empresas alemãs; só essa empresa tinha lucros de mais do que cinco vezes o PIB Português.

-Este canal está cada vez pior!

Raquel pegou no comando da televisão e começou a mudar de canal.

-Deixa estar aí! 

Estavam a transmitir um jogo de futebol feminino. Marcaram um golo. Uma jogadora loira foi comemorar o golo com a treinadora. Raquel reconheceu logo a treinadora, era Susana a sua antiga companheira de quarto, viveram juntas durante o primeiro ano da faculdade.

- Nunca vou perdoar àquela magricela loira!

Sofia percebeu logo que Raquel estava a lembrar-se do seu tempo de estudante quando surpreendeu Susana que foi a sua primeira namorada, no quarto delas, na sua cama, com a outra. Agora, a loira era uma das políticas mais importantes.

- Lá estás tu, outra vez!

- Sabes que ficas mais interessante quando estás zangada!

Deitou-se em cima dela, meteu uma perna no meio das pernas dela, mordeu-lhe os mamilos, continuou a beijá-la, um pouco mais em baixo, sentiu que ela já estava molhada, penetrou-a com dois dedos.

Estavam as duas deitadas tranquilas, alegres, satisfeitas, quando Sofia recebeu um telefonema de Angola. Resolveu fazer a ligação via skype. Já tinham vários vistos de residência, o processo administrativo tinha sido facilitado, mas não conseguiam comprar um imóvel para instalar a empresa; a oferta era tanta, que a escolha tornava-se difícil. Só aí iam despender mais de um milhão de euros.

Todas as sextas-feiras jantavam pizzas. Nesse dia havia jogo de futebol perto da pizzaria; por isso, Raquel queria chegar mais cedo para não encontrar muito movimento.

Raquel cansou-se de esperar, aproximou-se, agarrou-lhe na cara e roubou-lhe um beijo na boca.

- Vou descer, vou para o carro!

O carro da Raquel era um BMW, que ainda tinha a matrícula belga.

Sofia veio à janela, fez sinal de que já não demorava muito mais.

Raquel entrou no carro e passados uns instantes carregou no botão S&S.

O carro explodiu!

Sofia ouviu um estrondo: - Será que foi um tubo de gás que rebentou na casa em frente?

Virou-se e viu estilhaços projetados aproximarem-se com violência, partiram o vidro da janela do quarto, eram pedaços do carro.

Sofia foi ao aeroporto buscar José Maria Santiago, o meio-irmão de Raquel, que chegava de Marselha.

Ia a ouvir pelo rádio as comemorações do 25 de abril.

Estavam presentes todas as individualidades e Kurt Kuntz.

O tema principal do discurso de Kurt Kuntz era:

"O sentido da expansão do novo mundo portugês."

O modelo económico era muito bom, conseguiram terminar com as condições sociais, o que para eles era fundamental para se iniciar o caminho rumo a uma sociedade nova de mercado livre.

Afirmava que era preciso ter esperança, porque estavam no caminho certo; que era uma tarefa difícil que ainda tinha pela frente e que teria que a concluir para o bem da população:

- Vamos entrar num novo ciclo político. Foi uma crise das mais sérias, criou-se um sentimento de riqueza ilusória, foi preciso fazer muitos sacrifícios; este não é um período de facilidades, é a mudança necessária para que o país possa progredir. É necessário um esforço muito maior. Temos que fazer o caminho da recuperação que nos conduza à reconquista do direito a sonhar para que surja, de novo, um milagre económico; para isso é necessário uma férrea determinação e um redobrado ânimo.

-A nossa teoria económica e social termina numa economia livre de mercado de perfeita concorrência.

- Precisamos fazer muitos sacrifícios; já fizemos sacrifícios; alguns".

-As pessoas estão melhor assim e a economia já está a crescer, mais do que calculávamos; por isso, neste novo ciclo, é necessário continuar a insistir no esforço que está a ser praticado.

Tinham colocado um oficial idiota, intransigente, obstinado e maquinal. Falava com um discurso próprio dos anos trinta, um discurso primário, mal estruturado, mal formulado e desconexo, ou seja, absurdo. Mas mais uma vez tornava evidente o sentido das reformas.

A classe dominante impunha, novamente, o seu estilo de vida; a condição absoluta do sucesso é a desigualdade.

A mentalidade formativa enraizada do homem de boas contas estancava firme no caminho único da dureza, da austeridade irredutível. Também durante o melhor tempo deles, esses quarenta anos gloriosos, não tinham nada, não precisavam de nada, mas eram felizes.

Mais uma vez procuravam impor o seu modelo económico e uma forte restrição da liberdade.

Depois de várias batalhas, estavam, finalmente, a ganhar a guerra, para estabelecerem as novas condições, desde sempre pretendidas.

Entrava-se novamente no ciclo da depauperização e da miséria.

Sofia pensou:

- Continuam a insistir numa realidade onírica: restaurar o estado do empedernido do vimieiro, que deixou a sua marca pelo menos para as próximas quatro gerações

Foi depressa para a zona das chegadas; demorou pouco tempo a aparecer José Maria Santiago.

Tinha 22 anos, era estudante de biotecnologia e estava a fazer um estágio em Marselha. Trazia pouca coisa, uma mochila, uma pasta com o computador e uma mala de viagem pequena.

Acreditava na atividade criadora dos sentimentos, da subjetividade individual; para ele o conhecimento aumenta com a incorporação das experiências pessoais, da intuição de cada ser, que é em si diferente do outro, por isso torna mais completo, e complexo, o retrato da realidade. Era muito metódico, sem ser minucioso; gostava de planear as coisas, gostava pouco de surpresas. Era um humanista e acreditava numa força superior que conduz cada um para o seu próprio destino.

Do trabalho de investigação que estava a fazer, descobriu um novo micro-organismo, que se desenvolvia na cultura do servilismo.

Também chegou, mas do Brasil, Dona Yolanda, esposa de Luís Henrique, que era um dos companheiros do grupo do Atlântico-Sul. Veio fazer umas compras na Europa.

· Oi, tudo legal?

Estava à sua frente uma senhora pequenina, mas muito alegre e, bem disposta, muito branquinha, com cabelo escuro, comprido, ondulado e grosso com volume, o que tornava a sua cara pequena com um nariz grande e olhos verdes.

· Este aeroporto é uma beleza! Olhe ali, está vendo aquilo ali? 

- Aquela estrutura maravilhosa se enquadra muito bem com a paisagem envolvente. Aquelas formas se parecem muito com os meus cabides da DKNY do meu closet! É jóia né?"

Dona Yolanda tinha chegado do Rio de Janeiro, fez a viagem de avião com chegada direta a Madrid; só depois fez a ligação ao Porto. Os voos diretos para o Porto eram os mesmos, mas com o aumento da emigração já não eram suficientes. Os preços dos bilhetes estavam mais caros. O bilhete individual, no começo do fluxo migratório custava 300€, as companhias logo subiram o preço para os 600€; mas, mesmo assim, havia mais procura do que os voos que eram oferecidos pelas companhias aéreas. 

José Maria Santiago, quando chegou ao carro, tirou o casaco de couro. A sweat-shirt e as sapatilhas converse também lhe provocavam uma sensação de calor.

Não se cansava de admirar a imensidão da paisagem, com a linha enorme do horizonte que desconhecemos; era isso que fascinava os estrangeiros.

Durante a viagem, na estrada só passavam Audis, BMWs, Mercedes, Porsches e camiões.

Viu que era um território rico em solos de granito, mole e quebradiço.

Quando já estavam perto da cidade viu uns outdoors:

"Quanto mais me bates, mais gosto de ti!"

" Liberta o masoquismo salazarento que há em ti!"

Era uma cidade com uma população de meia-idade; os velhos tinham falecido todos e os novos emigraram à procura de trabalho e melhores condições de vida.

Viu ruas desertas, as lojas fechadas!

Chegaram a casa da irmã, deixaram as malas no hall, entraram para a sala e sentiram o cheiro delicioso da comida, que Sofia estava a preparar na kitchnet.

- Meu marido vai fazer uns negócios em Portugal!

O grupo do Atlântico-Sul queria comprar pelo menos 20% de um grupo de comunicação social agora que as empresas que seriam privatizadas estavam bastante baratas.

As ações do grupo de comunicação social português, que o grupo do Atlântico-Sul queria comprar, tinham desvalorizado mais de metade do valor; não era preciso um grande esforço financeiro para comprar o grupo, era um investimento acessível e ainda iria haver uma significativa redução com os encargos laborais. Os trabalhadores estavam sujeitos a um processo de requalificação, dois terços dos trabalhadores iam ser despedidos.

- Vem cá ver o quarto onde ela trabalhava.

Numa parede do quarto tinha alguns quadros, um deles com a fotografia da mãe.

A mãe deles faleceu muito nova. Era pouco segura, e por isso, inconstante nas suas atitudes, era muito bonita, tinha olhos azuis esverdeados, pele clara e cabelos escuros. Quando nova, andava com um grupo de amigos e tinham uma banda de música; depois acabou como empregada de limpeza na faculdade de economia da universidade do porto. Ficou encantada por um jovem moreno de cabelo preto, muito bem penteado, passados alguns meses disse-lhe que estava grávida, ele deu-lhe dinheiro para fazer um aborto. De repente ela carregava consigo no ventre um filho de um pai incógnito. Nasceu Raquel, filha bastarda de um homem que se tornou muito rico.

Depois casou-se com um mecânico que era o pai de José Maria Santiago. Quando a mãe faleceu, o pai entregou José Maria Santiago ao tio e foi trabalhar para Angola

Em cima da secretária, ao lado do computador, tinha uma caixa dourada, com desenhos egípcios, onde estava representada uma figura, um olho, o olho de Áhmon Rá. Dentro da caixa estavam alguns objectos e uma cópia de um manuscrito muito antigo que foi encontrado no Templo de Salomão que dizia: 

 - "Amor ao Pai; Acreditar; Liberdade".

Na estante, na prateleira do meio, dez livros; o primeiro, o livro de Hiram Abiff, o segundo, Tao Te Ching de Lao Tse, o terceiro, Analectos de Confúcio, o quarto, o Contrato Social de Jean Jaques Rousseau, o Quinto, a Toráh, o sexto os Protocolos dos Sábios de Sião, o sétimo, o Manifesto de Karl Marx, o oitavo, o Capital de Karl Marx, o nono, o Mein Kampf de Hitler, o décimo, o Neu Ordenung de Heidegger. 

- Está aqui o trabalho de investigação dela!

Raquel também estava a fazer um trabalho sobre a venda de empresas públicas a estrangeiros através dos mercados bolsistas.

E mostrou-lhe o computador onde Raquel trabalhava.

José Maria Santiago sentou-se ao computador; o ecrã tinha 2 ícones no ambiente de trabalho: um - holocausto; e o outro - banco fomento privado.

Abriu o trabalho com o nome holocausto que estava dividido em dois capítulos:

I- A Nova Aliança

II- O Plano para Executar a Austeridade 

O trabalho tinha uma indicação: Gabinete 15 E.F. - 804 222 222

Depois, abriu a pasta do banco de fomento privado:

" Enquanto estive em Bruxelas, fiz parte do grupo de trabalho que negociou a vinda do banco de fomento privado para aqui. Criámos um departamento de fiscalização; era preciso haver algum controlo, sobre o dinheiro que, enviavam das comunidades. Mas, desde o início, um grupo extremamente organizado apercebeu-se da enorme quantidade de fundos que iriam ser enviados para aqui e do esquema económico fraudulento que era necessário montar. Logo aí detetámos que estávamos perante escroques que ficam desnorteados quando sentem o cheiro a dinheiro fresco. Criaram uma organização financeira que continuou a cometer fraudes, só que em larga escala. Abriram um buraco de milhões. Mas é uma escola com poucos alunos e eles querem tudo só para a turma deles".

Só por curiosidade, abriu outra que tinha a história do mito de Adriana:

"Adriana foi excomungada e expulsa do povo ariano, partiu para o exilio com a tribo dos germanos; na sua caminhada até à europa, atacavam pequenos acampamentos e matavam as pessoas, principalmente mulheres e crianças, e faziam escravos os homens mais fracos; comiam castanhas e bolotas e caçavam porcos selvagens, deixavam amaciar a carne, só quando ela estava putrefacta é que a comiam: era um autêntico banquete. Faziam camas com pedras e deitavam-se em cima delas; levantavam-se logo pela aurora e tomavam banho nas águas geladas dos rios. Quando os rios estavam congelados atiravam-se para cima da camada de gelo e esfregavam-se com neve. Foram rechaçados pelos romanos e tiveram que ir mais para norte, para perto do rio Vístula, até que um dia surgiu no acampamento um soldado romano;

chamava-se Martinho: "o vosso domínio durará mil anos".

Foi a partir desse momento que os chefes germanos começaram a transmitir esse provérbio e que, depois, os dirigentes do III Reich transformaram esse prenúncio e adotaram-no como um dos principais slogans do regime: "mil anos de paz duradoura para o III Reich".

Estava inquieto, tinha acordado sobressaltado; durante o sono tinha sonhado com corvos negros. Decidiu levantar-se, foi molhar a cara, em seguida dirigiu-se para a cozinha, preparou uma fatia de bolo de mel e bebeu chá. Tomou depressa o pequeno-almoço, tinha um estômago delicado, por isso, normalmente, comia peixe e fruta, principalmente uvas, alimentava-se dessa maneira para manter a sua harmonia.

Uns dias antes da viagem de regresso, ainda em Marselha, resolveu ir ao seu café preferido o "Café Iris", que era do seu professor, Jean-Luc Durand.

- Herdei o estabelecimento do meu Pai, mas não o vendi a patacos, fui recuperando".

Depois levou-o para outra sala no andar de cima. Mostrou-lhe um elmo, que era de um cavaleiro franco que o usou quando lutou ao lado do conde D. Henrique na reconquista da península ibérica.

- Foram vocês que trouxeram o cacau, o açucar e as batatas; para que é que havíamos de estar sempre a comer bolotas e castanhas, não é?

-Todos precisamos de sal na dose certa!

Depois mostrou-lhe um relógio antigo:

-Estás a ver, um japonês ficou espantado com este modelo, já tinha este mecanismo aqui, estás a ver! ... e indicou-lhe a peça.

O professor Jean-Luc Durand sentia orgulho nos seus tesouros.

Quando já ia a caminho do seu apartamento, viu uma loja " Vidente Mde Christine"; achou aquilo exótico, mas resolveu entrar.

- Vejo um espírito velho que habita sobre eles!

- Mas, espera...agora vejo um céu azul! 

- 40% morrerão e, 60% de vós renascerão!

Quando ia a sair, a vidente disse-lhe:

- Compra uma prancha de surf!

José Maria Santiago passou o fim-de-semana a conhecer um pouco mais da cidade do Porto.

Desceu a rua Mouzinho da Silveira, passou pelo mercado Ferreira Borges, caminhou junto ao rio e depois subiu pela Rua da Restauração: entrou no Museu para descansar. Viu o quadro de João Chagas e a estátua do Conde Ferreira.

Telefonou para o 804 222 222

-Bom dia, serviços de comércio externo da embaixada da Finlândia!

-Bom dia, sou de uma empresa têxtil, basicamente de edredons e cobertores, temos um contentor em trânsito para a Finlândia...

-Com certeza, vou passar para a dra Anna Haikonen que é a responsável.

-Bom dia!

-Bom dia, foi a Raquel Mendes que sugeriu que entrasse em contacto consigo, ela pediu à sua irmã para guardar uns documentos.

-Sim; quem é o senhor?

-Eu sou o irmão da Raquel, O José Maria Santiago!

Houve um momento de silêncio.

- Preciso falar consigo, onde está?

-Estou em casa da minha irmã!

-Na próxima segunda-feira vou fazer uma deslocação ao Porto, podemos combinar no centro comercial?

Anna Haikonen estava no Porto. Tinha vindo para uma feira sobre oportunidades de negócios na Finlândia para os empreendedores nacionais.

Ela trabalhava na agência estatal para o comércio externo, mas através de uma empresa finlandesa com capitais russos.

-Conseguimos colocar alguns jovens em empresas finlandesas, mas não há empresas que se aproveitem!

Estavam na praça de restauração, na esplanada de um café, bastante acolhedora. 

A pele, extremamente branca, contrastava com os pontos azuis dos olhos e as faces vermelhas da cara; estava corada. Falou um pouco de si e fez as perguntas normais de cortesia. Mostrou-se um pouco distante, mas sentiu que ela estava nervosa; pegou na chávena mais do que quatro vezes para beber o café, mexia nos papeis, pousava-os num sítio e depois deslocava-os para outro lado. 

Referiu que a idiossincrasia do português nativo só se manifesta dentro do território nacional; em contacto com outras realidades há uma metamorfose.

José Maria Santiago deu-lhe a sua opinião:

-Já nos anos setenta se assistiu a algo semelhante, deu-se o mesmo tipo de reação. Quem quer uma vida melhor emigra. Só os inaptos e gente medíocre aceitam sujeitar-se a viver nestas condições.

- Este sítio sempre foi muito desigual; houve, e continua a haver, uma disparidade muito grande entre os vários grupos desta sociedade.

- Foi um erro tentar germanizar a população!

- Nós pertencemos à categoria dos Traders, a nossa função é assegurar confiança e segurança nas trocas comerciais... pelo menos tentamos!

-Sim, também são exóticos, mas pelo menos, são menos esquisitos!

-Da mistura de todas estas influências, dos povos autóctones, fenícios, gregos, romanos, visigodos, árabes, europeus do norte, surgiu no início dos descobrimentos, essa nova figura, o Trader: o mediador de intercâmbios viáveis.

José Maria Santiago tentou fazer uma primeira pergunta:

- A minha irmã deixou um código: - 4.9.10.  CAP VI!

Anna Haikonen não deu a mínima importância e continuou:

"Já ouviu falar de Lebensraum?"

- Espaço Vital?

- Sim, é o que acontece quando um país procura mais recursos que considera necessários para se tornar mais forte do que o resto dos outros países, para ganhar o estatuto de potência mundial.

- Um aspeto desse movimento de expansão implica o domínio total e absoluto das condições de vida dentro do espaço vital, ou seja, a conquista de recursos aumentando o território, subjugando outros povos e recorrendo a trabalho escravo de outros povos e condenando ao extermínio os grupos considerados inferiores.

-Os últimos alargamentos de 2004 a 2013; e quais foram os países que entraram?

-Os países do ex-bloco leste comunista?

-Praticamente, os países do ex-bloco de leste comunista com a sua população eslava e nórdica, mais Malta e Chipre, e em 2013 a Croácia. Portanto, está completo outra vez o Lebensraum.

-E os PIIGS?

-Portugal, Itália, Irlanda, Grécia e Espanha.

-Nesses países, a economia cresceu com investimento público e com fundos comunitários e o endividamento do estado aumentou em relação ao PIB, porque o setor privado é muito fraco, produz pouco e mal.

- Só a Itália, que é forte no design e na indústria automóvel, tem uma situação diferente; nos outros países as principais indústrias são estrangeiras; por isso podem ser facilmente deslocalizadas. E desde que a organização mundial do comércio permitiu o acordo multifibras mais ninguém concorreu com a China nesse sector.

Eles criaram duas zonas distintas: o Lebensraum, com os estados eslavos, e os PIIGS com os latinos. Eles estão a fechar o circuito económico nos PIIGS, e a abri-lo nos países saídos do ex-bloco de leste comunista, o novo Lebensraum.

Reparou que Anna Haikonen fazia as perguntas, não o deixava falar e, a seguir, dava ela as respostas, quase ao mesmo tempo que fazia as perguntas.

- O plano para executar a austeridade é prosseguido através de medidas de ajustamento natural utilizando a rigidez de processos e a determinação fixa para alcançar os objetivos pré-estabelecidos.

- É uma corrente de um estado ainda mais poderoso. Eles pretendem instaurar uma sociedade conservadora, porque os conservadores são os verdadeiros reformistas; lutam contra o progresso. Quando há um crescimento social voltam, de novo, a impor um estado mínimo.

- Quem são eles afinal?

- Só há uma organização capaz de impor este modelo: A Ordem de Adamir, que é um clube secreto. Nasceu no fim da segunda guerra mundial, durante o julgamento de Nuremberga, enquanto viam algumas peças cair, mas o aparelho manteve-se. Os novos dirigentes eram os antigos oficiais das waffen ss e da gestapo. O objetivo deles é construir uma sociedade pós-moderna segundo os princípios do nazismo e da extrema-direita.

- Eles acreditam nessa perversão maldosa da crença no individualismo e da lei da subordinação universal e de que não há nada mais poderoso do que as forças de mercado".

- E o que é que eles pretendem fazer?"

- Pretendem impor o plano para construírem a "Nova Aliança", que vai resultar, uma vez mais, na supremacia de uma economia de mercado completamente desregulamentada; e que se transforma, não num estado social que protege, mas num estado que facilita. Por isso, acima de tudo, pretendem desmantelar o estado social, transformando os serviços públicos em negócios privados.

- Pretendem desregulamentar para tornar o investimento mais barato, principalmente através da diminuição dos encargos com o custo do trabalho; permitir leis mais permissivas para despedir, acabar com os acordos coletivos de trabalho e reduzir o custo com as indemnizações; e transferir as receitas do estado para os privados, porque são os investidores que sabem como criar riqueza. E, por último, criar a desigualdade social entre os diferentes estratos sociais, o que para eles é normal e natural.

- Para eles não há nada melhor do que o mercado!

- O mercado funciona através do sistema financeiro, que é a origem da riqueza ilusória, que executa vários movimentos de especulação e que dá origem a um mecanismo de concentração e extração de riqueza, deslocando a riqueza num sentido ascendente, da base para o topo da sociedade.

O vírus do mercado, o "expeculativus" reage; primeiro, deixa que haja um crescimento económico; depois, quando sente que o dinheiro se multiplica, vem e volta a concentrar, a restringir, a absorver novamente, todos os recursos e meios económicos e a riqueza entretanto criada.

-Há uma escalada crescente para dominar a sociedade, durante a fase do crescimento: o 1% mais rico passa por três estágios; primeiro esconde-se; depois mistura-se e dissimula o seu comportamento; até poder, na última fase, voltar a actuar na sua própria condição. Só quando estão criadas as condições para amesquinhar o resto, só aí expressam toda a sua vontade em inferiorizar a condição do outro.

- Tudo o que não seja snob, não tem valor!

- Têm o prazer sádico de limitar o comportamento humano. Procedem de acordo com as suas características principais: - a avareza; o masoquismo; a hipocrisia; a arrogância; a prepotência e o cinismo.

O esquema é concretizado utilizando três vetores de atuação:

- manter uma atitude masoquista; apesar de causar sofrimento continuam a insistir no mesmo comportamento;

- causar o estrangulamento das condições necessárias ao normal funcionamento da sociedade, reduzindo ao máximo o consumo, porque não se devem alimentar vícios;

-provocar a segmentação da sociedade, levando à opressão dos setores economicamente mais desfavorecidos da sociedade

 - Já tiveram três experiências, pelo menos em 1929, 1987, 2008, e voltam a insistir sempre no mesmo!

- A ideia deles é sempre essa; pensam que é possível o crescimento económico baseado na diminuição dos impostos sobre as empresas, eliminar os direitos laborais, reduzir salários e privatizar o estado. Mas não dá mais crescimento, antes pelo contrário, dá sempre origem a que o investimento desapareça, o PIB diminua e o empobrecimento aumente.

- Então e quais são os principais objetivos a alcançar?

- Eles estão de acordo em que o PIB continue a diminuir e que a despesa pública não deve representar mais do que 5% do PIB".

- Para manterem a despesa pública baixa o que é que fazem?

- Diminuem a despesa pública de duas maneiras: fazem rescisões e fecham os serviços públicos e, por outro lado, têm dificuldades em pagar prestações sociais. Por isso, para quem entra numa em situação de desemprego, incentivam à emigração.

- Houve um ajustamento natural e a consequente seleção natural, muita gente foi presa fácil desse monstro monetário gigante.

- A austeridade aplicada provocou a desigualdade e, a desigualdade favoreceu a separação por grupos sociais: o apartheid social.

- Para uns poucos, passou a existir um condomínio de luxo fechado, rodeado por bairros sociais completamente miseráveis. Para os outros, como consequência imediata desse movimento, verificou-se o aumento da pobreza por dois factores: o desemprego cresceu e, os salários diminuíram.


- Eles acreditam que deve haver uma disparidade muito grande entre os rendimentos, porque só assim se consegue uma perfeita distribuição financeira entre os vários grupos sociais, para se atingir a desigualdade natural perfeita.

- É o novo modelo económico desde sempre desejado; está em curso a mudança de paradigma; agora é para privatizar tudo.

- O objectivo é ir mais além e mais à frente!

- É aumentar a produtividade!

- Não é fazer mais com menos; é fazer mais com direito a nada!

Como ela ficou quieta durante algum tempo, José Maria Santiago fez a pergunta:

- Então qual é a solução

E ela respondeu depressa:

- Vende-se tudo!

-Isto para dizer que a economia de mercado funciona perfeitamente.

- Estes prestamistas entraram num negócio usurário, tiravam tudo só para pagar os juros da dívida.

- E o que é que eles provocaram?

- Eles não permitiram que se revelasse o tamanho da catástrofe e do processo de destruição, que conseguiram realizar.

- A sua irmã descobriu um plano e foi falar com Kurt Kuntz, mas este disse-lhe que não, que era tudo uma ilusão o que ela achava que tinha descoberto.

- Eles procuraram criar o seu habitat natural; só que, desta vez, não precisaram construir campos de concentração; aqui têm condições naturais para crescer, encontraram, na vossa terra, um terreno fértil para lançarem de novo a semente.

- Só não consigo perceber o que é que eles utilizaram para realizarem o projeto da "A Nova Aliança"".

Na manhã seguinte recebeu um telefonema, era Anna Haikonen, outra vez!

- José Maria Santiago tenho uma surpresa para ti!

- Encontramo-nos na praia da boa memória, pode ser?

Meteu-se no carro e foi o mais depressa possível.

Quando chegou, já lá estava Anna Haiknen com outra senhora.

- Esta Senhora é Frau Muller!

Tinha a cara com algumas rugas, principalmente perto dos olhos, que pareciam cinzentos, mesmo por detrás dos óculos. O cabelo pequeno, com um corte acima dos ombros, já estava todo branco.

Frau Muller decidiu procurar Anna Haikonen

Tudo aconteceu depois de um sequestro.

Foi a uma agência bancária

Aparentemente estava tudo calmo, chamaram o numero 47.

A partir de aí, um senhor começou por criticar o facto de que a rapariga que estava ao balcão era mulata e que isso era uma vergonha; colocar gente daquela espécie a atender clientes, quando ele pagava o suficiente para contratarem outro tipo de gente.

O senhor dizia que era um ser especial, de uma raça superior e que a sua missão era acabar com a conspiração judaico-comunista da internacional.

- O banco é meu!

Tirou debaixo do casaco uma metralhadora uzi.

Ficaram fechados

Mandou chamar o gerente porque dizia que era um banco de judeus, ajudados pelos negros e que o gerente era um colaborador dos interesses dos judeus agiotas.

Tinha perdido todo o dinheiro que tinha herdado do seu pai, porque um dos gestores de conta tinha-lhe dito que devia jogar sempre na compra de CDS.

Matou o gerente.

Um silêncio atroz fazia-se ouvir dentro da agência.

Depois, implicou com um senhor de cabelo rapado, com um barba pequena e um saco a tira-colo.

- Sua maluca, o que queres de mim?

Matou o homem por ele ser homossexual.

Foi uma velhinha que ajudou a terminar com a situação: atirou-se para cima dele, ele deu-lhe uma bofetada e partiu-lhe o pescoço, matou a velhinha. Uma senhora aproveitou e deu-lhe um golpe com um canivete suíço; ele viu o sangue e desmaiou. 

A polícia apanhou-o.

- Já consegui sobreviver uma vez ao holocausto, custa-me ver que estão novamente a tentar fazer a mesma coisa. Estão a acontecer coisas que fazem pensar que estamos outra vez como no início do nazismo! 

Frau Muller era uma criança na altura da segunda guerra mundial; nessa época, esteve em casa dos seus pais um tio da mãe, oficial do exército alemão, que pediu para guardarem um objeto que lhes entregou. 

No final da guerra, a família de Frau Muller fugiu com esse segredo. Agora, apresentava-lhes os objetos de que ninguém fazia a ideia que existissem. Uma malinha com dois objetos muito curiosos mas muito importantes.

Ela pôs a malinha em cima da mesa e tirou, primeiro, um aparelho pequeno; era um comando.

Apontou o comando para o mar.

O comando fazia acionar os motores auxiliares dos submarinos, que eram movidos a pilhas de urânio.

Começaram a ver o mar a agitar-se até que surgiram os dois submarinos.

Um mês antes da rendição saíram da Alemanha 4 submarinos, 2 com 12 dirigentes cada um, e mais 2 com um carregamento de lingotes de ouro.

Os 24 dirigentes, depois de chegarem a Portugal, apanharam um avião para o Brasil. Podia ver-se pelos números de série que eram os submarinos onde tinham viajado os dirigentes nazis. Um dos oficiais, que fugiu nos submarinos, era o tio da mãe de Frau Muller.

Depois mostrou-lhe o outro objeto, ainda mais valioso; não queriam acreditar no que viam: era o segundo livro de Hitler: - "Doppelseite" ( dupla face ), uma obra fac-similada.

Foi esse tio, Erik Schmidt, oficial do ministério do interior do departamento da propaganda que deixou o livro em casa dos pais de Frau Muller.

Ele estava a fazer o prefácio para a primeira edição e estava a fazer um trabalho sobre meritocracia baseado nesse livro.

Ela disse-lhes do que se tratava:

- Doppelseite é o livro onde ele explica como se deve concretizar a sua teoria social; onde é apresentado o modelo, através de uma escrita iniciática, que não se entendia, mas que revelava como é que eles pretendiam realizar o holocausto. 

- É uma espécie de código de conduta da execução do extermínio da extrema-direita, pelo qual a sociedade se iria ver despojada dos fracos.

- Os seus correligionários políticos viram que ele tinha montado uma farsa perfeita; era mais uma falácia, um novo embuste.

- Utilizou um método para dissimular a verdadeira mensagem; só quem estava dentro do círculo compreendia a extensão dos objetivos que realmente se pretendiam alcançar.

- Era necessário praticar a demagogia com técnicas extremamente experimentadas para transmitirem a sua mensagem, para conduzirem as massas, que nem uns carneirinhos para a miséria.

- Tiveram que recorrer à propaganda, com técnicas ardilosas de exploração da vontade das massas, para atingirem os seus fins, para conseguirem criar falsas expetativas na sociedade, dizendo uma coisa, mas querendo provocar uma situação completamente contrária.

- São hipócritas, subvertem o sentido das ideias que aplicam no seu discurso.

- Acreditam, de verdade, na vontade de provocar desconforto nos outros. Têm um sentido natural para aplicar a sua maldade causando sofrimento nos outros. 

- Utilizavam três conceitos básicos para causar miséria. Segundo a teoria deles é um dever organizar a sociedade baseada nestas três ideias basilares:

1º - Zerschlagen: ( esmagar)

- Este primeiro objetivo tem por finalidade deitar as barreiras abaixo: ( o estado deixa de existir, não há limites para a atividade privada);

Os principais dirigentes nazis receberam uma mensagem do alto do olimpo: "deem mais dinheiro aos investidores, eles é que sabem gerir!

- Partiram da análise desse primeiro perverso clássico (Adam Smith), e da mão invisível que o investidor aceita que o guie para o caminho do negócio arriscado, que pode terminar em desgraça, depende do tamanho da vigarice que realize.

-A iniciativa privada é a regra fundamental para uma sociedade mais justa que recompensa aqueles que conseguem impor a sua vontade arrogante e prepotente. Pretendem abrir caminho livre para esse estado de coisas e danificar as condições sociais entretanto adquiridas.

- Eles entendem que o estado não deve participar na atividade económica; por isso, o estado deve privatizar as empresas estatais. Procuravam construir um estado-super novo, defendiam que a economia devia desenvolver-se de determinada maneira, isto é, conformada pelas forças de mercado completamente desregulamentadas, através do aumento do investimento privado com dinheiro do estado, que se concretiza da seguinte forma:

- O estado faz o investimento, constrói as infra-estruturas e depois os privados exploram;

-O estado transfere o negócio, mas fica com o encargo;

-O lucro é para o privado, o risco e/ou o prejuízo é para o estado; ou seja, o privado lucra com o dinheiro que tira do estado.

- Eles acham que se deve proceder a uma desregulamentação geral, principalmente do setor financeiro; os mercados não devem sofrer qualquer intervenção direta por parte do estado.

-Deixa de haver regras e controlos. Basta que alguma coisa esteja de acordo com o mínimo regulado; dessa forma já é permitido. 

- O estado não deve interferir na flexibilidade do mercado de trabalho.

- Chamavam-se o partido socialista dos trabalhadores, mas para eles os trabalhadores devem ser utilizados como um exército de homens condicionados a viverem sob a vontade arrogante e prepotente dos eleitos superiores, os investidores com tendências liberais".

Um dos dias mais odiados: o 1º de Maio.

Para eles deve-se acabar com o direito a um trabalho digno e acabar com o direito do trabalho;

Deve-se terminar com todas as contribuições sociais;

Por um lado, os trabalhadores deixam de estar obrigados a contribuir para um sistema, que funciona como entrada de financiamento; uma espécie de mutualidade social para todos que fazem parte da República.

Por outro lado, o estado deixa de estar obrigado a gastar dinheiro com prestações sociais; deixa de haver protecção. O mecanismo da proteção social, passa para o negócio privado, para as seguradoras, onde se paga para não ter protecção; como é o que acontece quando se faz um seguro, custa 100€, mas se quiser proteção tem que pagar 1000€.

Por isso o mais lógico é acabar com a segurança social. Termina-se com os subsídios de desemprego e as reformas.

Ao contrário do que eles pensam, estavam reunidas condições que, de alguma forma, criavam confiança e segurança nas expetativas; existia alguma previsibilidade e estabilidade, eram condições assumidas como garantias.

Mas, para eles é fundamental acabar com todas essas condições, para continuarem o caminho para causar miséria.

A instituição que mais adoram: A escravatura, para eles mais vale ter trabalho escravo, do que morrer à fome.

- O estado deve controlar a subida da inflação, eles têm terror da inflação, a inflação é considerada um mal profundo que é necessário combater.

-A inflação é a pior coisa que pode existir na economia; a inflação é a inimiga principal do dinheiro; como o dinheiro perde valor, torna-se mais caro adquirir bens e produtos, por isso deve combater-se sem tréguas o perigo da inflação, devem utilizar-se todos os meios para impedir a subida da inflação.,

- O estado deve reduzir os gastos com a administração pública: só devem existir forças policiais e tribunais.

- O estado deve cortar nos impostos: eles entendem a sociedade separada em duas partes, por isso consideram duas fontes principais de rendimento: - os salários; e as rendas.

-Para eles, não deve haver impostos sobre o capital: o dinheiro não deve diminuir através dos impostos, mas antes aumentar através dos juros e lucros fictícios dos jogos das bolsas e dos mercados.

-Pelo contrário, só deve haver impostos sobre os salários dos trabalhadores por conta de outrem/dependentes. Quem não tem dinheiro e vive para o trabalho, não se pode acostumar a ter coisas suas.

- Com todas estas condições reunidas, o estado deixa de existir: não há limites para a atividade privada.

- A razão absoluta é: - causar a máxima desigualdade social possível.

2º - Elend (miséria)

- Segundo a teoria deles a sociedade deve estar organizada conforme o que determina este princípio: - o trabalho liberta!  Arbeit Macht Frei.

-A conceção deles é determinada por esse princípio básico: causar miséria!

-E pelos meios que utilizam para impor a sua vontade e a forma como constrangem e inferiorizam o comportamento do outro; e os truques que utilizam para condicionar a vontade de quem eles classificam como inferiores. O processo para atingir a desejada desigualdade social natural e o consequente estado de miséria, desenvolve-se em três momentos:

-Para eles, as pessoas mais fracas atuam através de um reflexo condicionado provocado por uma necessidade fisiológica básica.

-Eles entendem que há um processo de seleção natural, que termina logo com o erro; ou seja, há uma tendência natural para rejeitar tudo o que não tem valor.

-Com tudo isto, resulta que se impõe uma condição; é necessário que haja uma separação entre os diferentes estratos sociais.

- É o esquema da ordem natural; só quem está apto, e tem todos os instintos apurados, consegue viver na sociedade.

- Para eles, o processo de seleção natural implica sempre que uma parte da sociedade cai no ciclo da miséria.

- Acreditam que existem categorias de pessoas, que há pessoas, umas, superiores em relação a outras; eles entendem que devem existir dois estratos sociais diferenciados; segundo a teoria deles deve-se construir uma sociedade onde só os eleitos, os que são da classe superior têm direito a uma vida digna, com conforto e têm todas as coisas e todas as possibilidades; e que os outros, as pessoas inferiores, que não têm inteligência, e que o seu comportamento é condicionado por meros atos animalescos; a esses, gente sem categoria, estão destinados a percorrer o caminho da miséria; aos inferiores, só lhes é permitido ter uma existência miserável. 

- Por isso, entendem que devem existir estratos sociais diferenciados; assim, para eles é preferível organizar a sociedade em um regime militarista, hierarquizado, severo, prepotente e revanchista. Quando se colocam em causa estes valores, dizem que se está a perder a credibilidade, a criar insegurança, incerteza e desconfiança.

- Mas eles são dominados por estes sentimentos: a avareza; a hipocrisia; o cinismo e a mesquinhez.

- Eles não os entendem como problemas, mas são defeitos de personalidade, que se manifestam através de um comportamento influenciado pelo mau caracter.

- Que utiliza a arrogância, que é essa mania de ser superior, e a prepotência, que é esse falso estado de poder de querer impor a vontade sem olhar a meios.

- São vícios de personalidade, são mais do que vícios, porque eles só não precisam deles, mas, no entanto, só conseguem atuar com esses propósitos.

- Essas pessoas atuam limitadas por essa visão de querer alcançar a sociedade nova de mercado.

- Eles acreditam que se acabar com a influência do estado, então surgirá um homem novo livre; isto é o resultado que eles pretendem realizar.

- Por isso, eles acham que é inevitável causar miséria.

- O objetivo é conseguir provocar esse ciclo de miséria para os "inferiores".

3º - Vernichten ( aniquilar )

- Com este princípio pretendem terminar com tudo...

- Partiram de um princípio fundamental: " mata tudo, que cresce tudo de novo e melhor!"

Querem fazer regressar outra vez a cultura do extermínio, para que os eleitos possam viver livres de novo.

Para eles, é mais fácil dominar o outro quando ele está destruído e dar-lhe a ideia para um novo ciclo, para um novo sentido e para um novo estado.

Eles conseguiram materializar a teoria deles. Todo este processo tem um resultado: - causar a desigualdade social natural.

- Com essas atitudes prejudicam deliberadamente a comunidade.

- Só há uma palavra que os define: reacionários, eles são reacionários.

Frau Muller percebeu que eles ficaram surpreendidos e respondeu:

-Criaram os campos de concentração, para tornar reais as chamas que eles veem nas suas mentes";

-Provocaram O Holocausto, a grande catástrofe - Ha-Shoah. 

-Fizeram chegar aos campos de concentração milhares de pessoas dizendo que estavam a colaborar num novo projeto social; que para eles eram centros de inovação e conhecimento; utilizaram os campos de concentração para exterminar milhões.

Embelezaram as portas da morte com um slogan motivacional: " Arbeit Macht Frei".

- Já viste o plano destes facínoras!

- Não é só uma crise económica é uma crise social e existencial!

Martim ouviu os primeiros toques do despertador, saltou da cama:

-Já são sete horas, toca a levantar seu preguiçoso!

Tomou banho de água fria, preparou um pequeno-almoço à inglesa.

O apartamento dele era um pouco estranho. O quarto era igual à cela de Hitler; na cozinha tinha um armário cheio de bebidas alcoólicas jagermeister, cidra, cerveja, comprimidos anti-depressivos e produtos químicos; no quarto de banho tinha vários objetos de auto-flagelação.

-Herr Kuntz, não se esqueça do jantar!

-Nunca me esqueço dos meus compromissos!

Passou toda a tarde de Sábado a ver filmes na internet.

Em cima da secretária, num suporte, estava o livre do pecado "O Capital" de Karl Marx, lá dizia:

...Para nós não se trata de reformar a propriedade privada mas sim de aboli-la, não se trata de atenuar os antagonismos de classe mas abolir as classes, não se trata de melhorar a sociedade existente mas de estabelecer uma nova...

- ... Para nós a economia é o estudo e a análise das condições para explorar e obter o máximo de rendimento que a empresa e o mercado podem dar; ou seja, os meios necessários para satisfazer as necessidades dos empresários..."  

Também esteve a ler um livro sobre economia: - "Judas Iscariotes Vende o Cenáculo", e outro livro que era uma cópia de um diário alemão muito difundido entre os neo-nazis.

E começou a ler o diário:

- ... No nosso desenvolvimento social, iniciámos a investigação e fizemos vários trabalhos de pesquisa científica social, realizámos várias experiencias médicas onde estudávamos os comportamentos verificados para anteciparmos futuras reacções, para estabelecer um método terapêutico rápido e eficaz ... em pouco tempo já tínhamos resolvido perto de 10 milhões de casos com sucesso irrefutável...

-...Há características genéticas que resultam das combinações celulares que se manifestam através do comportamento; a aparência reflete a formação genética que provoca um esquema mental que determina o comportamento que torna evidente que essa pessoa atua condicionada ou seja, todo o comportamento é explicado pelas características genéticas e todo o comportamento individual é enquadrado num certo tipo de deficiência, por exemplo, as disfunções sexuais como a homossexualidade, é uma deficiência genética e uma aberração contra o natural comportamento biológico...

-...Aos tipos genéticos correspondem defeitos de personalidade; onde é avaliado o grau de gravidade. O desvio pode ser muito importante ou muito pequeno. Se o desvio for muito grande vai afetar o comportamento social do individuo, criando nele uma sensação de riqueza ilusória, tanto pessoal como económica...

- ...Quanto aos vícios de personalidade, pelas suas próprias características genéticas, há pessoas que já estão predispostas para a estupidez; há outros que têm uma tendência para serem cretinos...";

-... Assim como há homossexuais, também há cretinos e estúpidos. É tudo uma deficiência; estes três tipos de deficiência genética: os estúpidos, os cretinos e os homossexuais são os três tipos mais difíceis de resolver, não há engenharia genética que lhes valha...

Aproveitou o resto do fim da tarde para passear, vaguear, mas também era um momento para ordenar ideias.

Pediram-lhe um trabalho encomendado, populista, um embuste. Era preciso confundir a mensagem, era preciso controlar o destino para apanhar a riqueza gerada pelos impostos cobrados, para ficarem com o dinheiro do esforço colossal que parte seria para pagar os juros do reembolso da dívida perpétua.

Tinha feito o que o seu empregado lhe tinha pedido, não sabia se era uma ameaça, mas resolveu terminar de uma vez com o problema.

Vivia atormentado, já não conseguia pensar em mais provações para impor, para restringir ao máximo as condições de vida daquela população.

Os serviçais capachos invertebrados voavam na sua cabeça, Kurt Kuntz queria provocar mais sofrimento. Consumido pelos seus fantasmas, não conseguia pensar em mais maldades, tinha esgotado todos os seus recursos;

E pensou: " a resistência deles vai mais além do sofrimento"

"Estas gentes não têm carater; por isso, podemos aplicar qualquer medida de tortura, que eles aguentam. Isto não permite estabelecer uma norma, porque não temos resistência, só nos permite obter um resultado errado. No entanto, permite-nos chegar à conclusão que podemos aplicar qualquer medida de austeridade, mesmo extremamente gravosa, quando encontramos gente pequena, fraca, sem carater, que não reage, mesmo sendo colocada em situações de exploração extrema.

Estava uma noite tranquila, amena de uma quietude verdadeiramente silenciosa; lembrou-se de Willy Brandt e Konrad Adenaur, que tinham sido seus colegas, mais velhos, no colégio.

No dia seguinte, a 20 de Abril de 2013, no final da tarde, começou, numa cervejaria, a reunião do grémio dos empresários renovadores e inovadores centralizadores de oportunidades sustentáveis; o tema principal era sobre o comércio externo globalizado. Iam fazer um jantar e depois a reunião da assembleia geral.

Eles achavam-se "os novos empreendedores afortunados pela globalização".

Tinham um programa o N.A.D.A (Núcleo Avançado para o Desenvolvimento Autónomo) que depois era dividido pelos vários sectores económicos.

Às 16:30 realizou-se um workshop dos jovens modernistas, um dos moderadores começou por explicar as vantagens do sucesso:

- Para continuar este caminho com esperança é preciso persistência, tudo o que é uma ilusão é um caminho que devemos abandonar, porque não conduz a resultados práticos...concretos...reais...

Depois dirigiu-se para um dos participantes e apontou para uma montra, que era uma porta em vidro, que estava iluminada.

-Estás a ver ali aquela luz? Por detrás daquela porta de vidro está o sucesso!

- Os outros vendem-te a ilusão de que é possível alcançar o sucesso, tu tens que ter a esperança de que vais ter sucesso, caminha em direção à luz, vai!

-ups, desapareceu, que pena!

Às 19:30H já estavam todos no restaurante.

Estava com Martim um jovem político, diretor de uma empresa pública, tinha sido ele mesmo, enquanto advogado num escritório numa sociedade de advogados conhecida a fazer os contratos de forma a defraudar o erário público. O que ia acontecer? Ele ia ser transferido para o estrangeiro e a empresa pública com todo o seu património subavaliado ia ser privatizada.

Mas primeiro as televisões queriam entrevistar Martim, que também era secretário de estado no ministério da economia, por causa de um acidente que a polícia marítima tinha sofrido durante uma perseguição com uma lancha voadora; tentavam apanhar os traficantes de droga quando embateram contra o que pensavam ser um rochedo. Depois descobriram que se tratava de um submarino que tinha emergido.

-Trata-se de um submarino alemão de segunda guerra mundial de uma classe especial da classe tipo XXI o U-3025; estes não tinham contrapartidas.

-Então o que vão fazer?

-Já enviámos o relatório para o ministério da defesa; em princípio vai para os estaleiros de Viana de Castelo e depois de um pequeno arranjo, deverá ser vendido para algum país africano, tipo Malawi; pode ser que algum desses países estejam interessados".

O Martim, o Bernardo, o Xavier e o Gonçalo, todos engenheiros, muito bem vestidos, de casaco azul, na lapela usavam o símbolo da monarquia; estavam sentados na mesa com Kurt Kuntz, que parecia impaciente. Desde o início do jantar que o tema principal dos diálogos entre eles era esse fenómeno incontestado do ressurgimento do homem tradicional conservador.

O primeiro foi o Martim:

- Já nessa altura criou um fenómeno novo na descontinuidade territorial, estabeleceu um país e dois sistemas, a metrópole era regida por cinco dogmas, Deus, pátria, família, futebol e fado.

- A família, incarnada no bom pai de família e homem de boas contas. Havia liberdade religiosa, porque todos deviam ir à missa, especialmente ao domingo.

- A pátria não se discutia, todas as medidas que eram adotadas eram sempre para o bem da nação, porque só ele, como supremo condutor da nação, e só ele, com seu feixe de conhecimentos, é que compreendia totalmente o mecanismo dos condicionalismos do tempo.

- O futebol expressava a virilidade do português; por isso, escolheu o clube com as cores do sangue vivo e enérgico.

- E o fado que canta a saudade do passado glorioso que irá voltar.

Depois foi a vez do Bernardo

- Ele aplicou a nossa teoria clássica, que está certíssima, um forte controlo fiscal, um rigor com a despesa pública e o pagamento escrupuloso dos encargos: o chamado ajustamento natural; todas estas medidas enformavam um feixe.

- Sempre foi um rico país, tá a ver! Como ele demonstrou, foi, e continua a ser, um país tão rico, produz tanto, que é bem capaz de cumprir o pagamento escrupuloso dos encargos, só com os rendimentos dos impostos sobre o trabalho; só isso é suficiente para pagar esses poucos encargos, tá a ver.

- Nem é preciso tributar os lucros e as rendas, porque não se pode dificultar o caminho dos investidores, porque são eles que criam riqueza.

O Xavier acrescentou

- Já não concordo tanto com o corte na despesa e nos custos intermédios, mas acho que se pode alcançar melhores resultados recorrendo a outras medidas; se reduzirmos os custos com os encargos do trabalho podemos melhorar o preço dos produtos; e se aumentarmos o volume das exportações consegue-se vender mais; por isso há necessidade de mais mão-de-obra barata e, assim, consegue-se manter os pobrezinhos mais satisfeitos.

O Gonçalo tinha outras preocupações:

- A mim, o que me preocupa é como vamos tratar da saúde aos pobrezinhos; não há dinheiro para comprar tanta morfina para os hospitais!

Já estavam a meio do jantar quando chegaram mais elementos do grémio, mais dois novos empreendedores, também muito bem vestidos, de casaco azul e na lapela dos casacos também usavam o símbolo da monarquia; só quiseram sopa, pão com manteiga e água.

Um deles começou a falar com o Martim e contou-lhe o que se tinha passado entre ele e a sua esposa:

Foi como lhe disse: - Kika, hoje estou atarefadíssimo, não me importune. Onde estão as miúdas?

E ela respondeu-me: - No quarto!

Então eu disse-lhe: - Peça a sua mãe para olhar por elas, vou para a reunião da direção do grémio.

- Trouxe isto!

E mostrou-lhe um flyer da lista yxz ao congresso do partido, com um dos principais objetivos da reforma:

- Reduzir o consumo.

Primeiro, uma frase em destaque:

"Agarra-te bem ao senhor e sobreviverás; e deixa para lá os servos, não cuides dos servos"

Depois, a forma como era aplicado o método:

- A vassourada geral: incentiva-se o consumo, dá-se crédito para as pessoas gastarem mais do que os seus rendimentos reais permitem; depois acaba-se com os empregos e por último, tira-se-lhes tudo.

- De novo, o senhor condena o servo à obrigação de nada ter.

Comeu mais um pouco de pão com manteiga e fez outro comentário:

- O aumento de rendimento prejudica os pobres, os indigentes, os fracos, os miseráveis; os pobrezinhos são uns viciados, não precisam de nada do que eles pensam.

O Martim acrescentou:

- É gente que cede facilmente aos estímulos, que não domina a vontade, que cede aos vícios; que só procuram satisfazer as vontades, os caprichos e os instintos; atuam para ter prazer instantâneo.

O rapaz concordou e acrescentou:

- A droga não é um flagelo, é um meio para controlar os fracos e os viciados e para tudo o que se torna marginal à regra.

- Os viciados juntamente com os fracos são fáceis de eliminar, eles autodestroem-se, só é preciso criar as condições que eles querem, é fácil criar uma pandemia para acabar com eles.

Para reforçar a ideia disse:

- Nós estamos a perseguir e a restringir cada vez mais as possibilidades de sobrevivência dos pobres; a nossa atuação é voraz e trituradora; a opressão e a diminuição da dignidade humana é um bem em si mesmo.

Depois foi a vez de Martim; apresentou-lhes um programa:

"Lusitânia XXI - Perspetivas de Futuro."

E quais eram as principais linhas de força, sobre como deveria ser feito o esforço para o desenvolvimento da economia!

Revelou que, de início, ainda se assistiram a alguns problemas, mas já se faziam sentir sinais de retoma económica. Tinham vivido no conforto e na prosperidade, mas que tinha terminado em miséria. Mas as condições de vida estavam a melhorar substancialmente.

- A austeridade é como um fruto, mas livre de pecado!

Martim tinha estatura baixa, entroncado, redondo, o cabelo encaracolado, barba pequena rala e aspeto gorduroso, os seus modos eram indesmentíveis; tinha um certo modo de estar típico dos de mau caracter. Não tinha nenhum bom senso e era extremamente persistente mesmo não tendo razão; era um cínico arrogante, calculista e avarento; não tinha escrúpulos, para ele quanto mais sádico e cruel melhor.

Achava-se superior aos outros, porque acreditava no princípio de que não somos todos iguais e não temos todos as mesmas capacidades.

Veio aureolado de prestígio por ter frequentado uma universidade estrangeira porque o papá assim o permitiu. Era formado em ciências da comunicação, especialista em propaganda na área da mistificação das massas.

Enquanto viveu nos Estados Unidos da América morou num apartamento de luxo em San Francisco, com uma angolana e uma brasileira, era numa discoteca através do namorada da angolana que arranjavam droga.

Na empresa que abriu, de consultoria de processos a candidaturas a fundos comunitários, comentava que não sabia quais eram as suas obrigações; no entanto, fazia burlas, branqueamento de capitais, falsificava a contabilidade e ameaçava os trabalhadores.

Uma outra empresa, em que era sócio e um dos administradores, ficou insolvente. Já não podia fazer pagamentos e não conseguia obter crédito. O advogado de uma outra empresa conseguiu, através de uma agência bancária, documentos que comprovavam que tinha provocado a falência fraudulenta para não pagar aos credores.

Como administrador num grupo económico muito influente, onde tinha ganho vários concursos para construir algumas auto-estradas e centros comerciais, negociou, depois, a venda das concessões aos chineses, desviou o dinheiro resultante dos negócios para contas off-shore.

Para ele, era necessário criar as condições para impor um domínio absoluto do funcionamento do mercado económico livre. 

A restauração de uma verdadeira economia de mercado seria realizada através de dois instrumentos chave: - a privatização e a desregulamentação.

- Porque são os investidores que sabem criar riqueza; por isso, é necessário criar condições para que a riqueza aumente. Isso só se consegue atraindo o investimento, que são fundos de dinheiro não declarado, livres de impostos.

Quem tem dinheiro procura multiplicá-lo da maneira mais fácil, que é através do jogo na bolsa. O investimento no mercado das ações é o tipo mais comum de investimento que se realiza.

O dinheiro gera dinheiro, através dos juros. Os juros sobem, o dinheiro cresce.

Por isso, não se deve impedir o seu curso normal; não se deve subtrair ao dinheiro, os impostos.

Tem dinheiro para consumir tudo aquilo que quer e para fazer poupanças; volta a investir, mais juros, mais dinheiro; uma parte já se destina a consumo supérfluo, de luxo.

Para que as condições de vida melhorassem era necessário que o comportamento geral obedecesse a algumas regras.

Defendia que o crescimento económico deveria ser feito pelos privados;

Que era preciso produzir mais com menos;

Preconizava que se privatizasse tudo, correios, água, caminhos-de-ferro, companhia aérea, portos, hospitais, escolas, enfim, tudo o que fosse possível.

Só deveriam ser comercializadas cinco marcas de automóveis; a Audi, BMW, Mercedes, Jaguar e Porsche. As ruas, que pareciam estreitas, tornar-se-iam enormes avenidas.

Verificou-se um ligeiro pico no aumento da taxa de mortalidade e os hospitais já não tinham listas de espera. Por isso, podia-se cortar na despesa com a saúde.

Só deveriam existir hospitais privados, muito bem equipados; normalmente deveriam ter para proporcionar algum conforto, sofás em pele, tapetes em lã e quadros de pintores famosos.


Deveriam apostar em alguns setores da atividade económica; o turismo, os call-centers e as empresas de I&D.

Referiu que a tendência futura seria no sentido do desenvolvimento do setor do turismo e das exportações.

Iria haver um desenvolvimento em todos os setores ligados ao turismo e, a nível interno o turismo seria a alavanca do desenvolvimento. Com o turismo, haveria uma importação de divisas e a produção nacional seria consumida pelos estrangeiros.

A população ativa seria de 1milhão e 200mil; desses, 900.000mil estariam no sector do turismo e saberiam falar inglês, francês e mandarim fluentemente.

Os trabalhadores ficariam com menos salário, mas teriam mais horas de trabalho. O salário médio seria de 3200€; uns poucos ainda declaravam um vencimento mensal acima dos 6000€, mas o ordenado normal seria de 400€.

As empresas ganhariam tanta liquidez que pagariam cheques refeições, ginásios, médicos, viagens...

A taxa de desemprego desceria para uns escassos 2%.

Mencionou medidas que tornariam a balança comercial excedentária.

O valor das exportações seria maior do que o valor das importações, haveria um superavit.

O preço dos combustíveis deveria aumentar para diminuírem as importações de produtos petrolíferos.

Com isso, as importações diminuiriam 20% e as exportações manter-se-iam em 40%.

O aumento das exportações seria conseguido através das medidas que eram reguladas pelo Plano Bugigangas Globais; deveriam ser implementadas medidas de apoio ao setor do calçado e dos têxteis através de subvenções concedidas pelo estado para ajudarem esses setores perante a concorrência nos mercados externos.

Na parte final da apresentação, referiu que a economia moderna depende de três fatores:

- da liberalização;

- da desregulamentação;

- e da privatização.

- Na nova sociedade tudo se transforma!

- A dívida é um mecanismo de transformação; com a transferência de propriedade dá-se essa transformação, tudo se altera.

- É necessário fazerem-se grandes investimentos para melhorar as condições do mercado, isso tem várias consequências: aumenta a competitividade, que gera mais eficiência e mais produtividade, isso permite criar mais emprego; por seu lado, a eficiência do mercado gera mais produtos, bens e serviços que chegam em melhores condições aos consumidores, ou seja, mais baratos e com melhor qualidade.

E chegou à conclusão que a última crise tinha sido a melhor coisa que aconteceu, tudo o que podia fazer frente tinha sido destruído, só ficaram os inaptos.

Assim já era possível estabelecer uma sociedade como eles queriam, era possível impor qualquer medida degradante sem qualquer tipo de contestação.

E para conduzirem as pessoas para o caminho da verdade, achava que não era preciso que as pessoas pensassem muito, bastava que utilizassem a sua brejeirice habitual, não muito desenvolvida. Bastava um modelo tacanho, rural; e para manter a calma, os meios de comunicação deviam formar a opinião pública através do futebol.

Tudo isso para se tornar num dos vinte países mais ricos do mundo.

Toda a gente acreditou que aquela mensagem indicava o caminho para se recuperar de novo a confiança.

Depois, foi a vez de Kurt Kuntz, vestido com o uniforme negro de comandante de divisão da Ordem de Adamir, começar a apresentação do plano:

- Está na altura de reativar o Plano para instaurarmos, de novo, a força, para estabelecer, novamente, um milénio de paz duradoura, cumprindo a nossa lei natural!

- Não conseguimos vencer várias batalhas mas estamos a ganhar a guerra!

- Vamos dar início à concretização do plano " A Nova Aliança"!

Era o início de mais uma tentativa para impor, outra vez, a ideologia do nazismo e da extrema-direita.

Fez-se silêncio. Estavam todos concentrados no que Kurt Kuntz ia dizer. Sentiram que estavam perante um comandante supremo do seu movimento. Mais uma vez estavam diante do anúncio da sua ideologia pura de domínio sobre a sociedade.

- Nós partimos de um problema económico principal e do nosso combate principal que é a luta contra o vício instalado de se viver acima das possibilidades. Viveu-se uma espiral despesista, que criou uma sensação de riqueza ilusória; começaram a consumir desalmadamente. Precisamos transformar uma sociedade voltada para o consumo alienado numa outra de economia perfeita de mercado.

- O nosso conselho de peritos estudou, e concluiu, um modelo no qual se baseia a nossa teoria económica que defende que toda a atividade económica deve ser de iniciativa privada.

- Mas existe um problema: continuamos a gastar muitos recursos com a massa, a manada, a turba, o número.

- A "fúria da manada" destrói tudo; por isso, através da nossa ação direta no estado, conservamos a justiça e a segurança. Assim, só a segurança dos bens, a defesa e a gestão da justiça devem continuar a ser praticadas pelo estado.

- Há uma regra fundamental no nosso modelo económico: - partimos do princípio de que é preciso dar mais dinheiro aos grandes investidores, porque são esses grandes investidores que criam riqueza. O estado deve financiar os investidores privados para proporcionar a retoma do investimento, para provocar o crescimento económico; por isso, é necessário criar condições favoráveis ao investimento.

- É o mecanismo da oferta e da procura que determina o valor do rendimento. Nós defendemos que, para quem é mais assertivo, resiliente, dinâmico, empreendedor, inovador, mais competitivo e tem um talento especial e tem força, a vida vai proporcionar-lhe melhores condições económicas, rendimentos mais altos pelo seu esforço e uma maior acumulação de riqueza; se não for assim, isto é, para quem é pobre e fraco, os seus rendimentos serão sempre baixos. Quem não tem valor permanece, sempre, com rendimentos baixos; por isso, aumentar o rendimento dos pobres é estragar-lhes a vida. 

- No nosso modelo social acreditamos nos homens de boas contas, nos homens de trabalho, no rosário dos puros. O nosso modelo dá origem a homens que têm, como principais virtudes, serem convictos, intransigentes, resolutos, não terem dúvidas e não se enganarem. Por isso, a organização da sociedade deve estar feita através da estratificação por classes sociais.

- A estratificação social deve colocar, por um lado, em cima quem tem mais capacidades naturais do que outros, que são mais desenvolvidos e mais aptos para os conflitos em grupo, para influenciar outros, para conseguirem benefícios em proveito próprio e que têm mais capacidades para se libertarem através do trabalho honroso que dignifica e liberta.

- A ordem tem um lema: "não somos todos iguais". Partindo desse princípio fundamental de que não somos todos iguais, e porque também não temos todos as mesmas capacidades, há uns, aliás muitos, que degeneram, não se enquadram na nossa sociedade, são anti-sociais por vícios da vontade como, por exemplo, a preguiça.

- Por isso, o mais forte deve constranger a ação do mais fraco e deve obrigar o mais fraco a trabalhar até aos seus limites; que são pouco resistentes. Nesse caso, só há um remédio para ultrapassar essa situação, através do trabalho que liberta; levado até à exaustão liberta completamente!

As empregadas tinham uma camisa branca por cima de um corpo nu e umas mini-saias pretas. Mas ninguém se mexia, estavam completamente absorvidos, estavam em transe, só queriam que as condições em que eles acreditavam se concretizassem de novo; o que estavam a ouvir despertava neles os seus anseios mais primários: restaurar a economia livre de mercado.

- Quanto ao problema dos impostos, num estado moderno deve-se pagar poucos impostos ou nenhuns. Não devem existir impostos sobre lucros, rendas, nem para as transações comerciais. Os impostos sobre os rendimentos do trabalho devem ser proporcionais com uma taxa mais elevada nos rendimentos menores.

Os que estavam a assistir começaram a fazer alguns comentários entre si:

-Pago mais impostos do que os outros, e eles ainda tiram benefícios do que o que eu pago, não pode ser!

Um outro dizia:

- Tá a ver, está a dar do seu dinheiro para que outros

não trabalhem!

Também se ouvia dizer:

-Pagar impostos para prestações sociais, nem pensar! Houve um deles que disse:

  • Tanto dá pagar impostos para prestações sociais, como não!

Os que estavam ao seu lado ficaram logo surpreendidos.

O jovem já há algum tempo que os estava a observar e estava a pensar:

- Não estão a consumir bebidas alcoólicas, mas são estúpidos na mesma, mesmo só com água.

O jovem estava atónito com tanta irracionalidade, então decidiu falar, e explicou:

- O senhor A tinha 1000 euros de rendimento e pagava 10 euros de imposto,

- O senhor B tinha 100.000 euros de rendimento e pagava 1000 euros de imposto.

Estavam os dois com cancro. E cada tratamento custava 1000 euros.

Um morreu ao fim de um mês, o outro continuou a pagar 1000 euros durante 6 meses, depois disso também morreu.

Os que estavam à sua beira, ficaram a olhar para ele desconfiados.

E ele continuou:

- Utilizam essas táticas para justificarem que não se deve pagar impostos, que é reforçado pelo princípio da utilidade crescente do rendimento: - "para quê deitar dinheiro fora, quando posso gastá-lo inutilmente comigo mesmo"

Começaram a discutir uns com os outros, até que Martim pediu um pouco de calma. Quando se aperceberam o rapaz já não estava lá!

E voltaram a centrar a atenção no discurso de Kurt Kuntz

- Quanto ao desemprego não faz mal!

- A questão do emprego é uma sub-questão. Só os investidores podem aumentar mais os postos de trabalho. Por isso, é necessário estabelecer um novo regime em que se apliquem outras condições mais favoráveis ao investimento; só vejo uma forma de se alcançar esse objectivo: se se desregulamentar as leis do trabalho. Para isso é necessário revogar todas as leis do trabalho que estabeleçam direitos e garantias para os trabalhadores, deve-se estabelecer uma política de baixos salários, não deve haver contrato de trabalho, deve-se pagar conforme o trabalho executado, não deve haver limite de duração do tempo de trabalho, o trabalhador deve estar sempre disponível para o trabalho, só deve ser permitido um período de descanso de seis horas por dia. E só os mais capazes têm direito ao emprego".

- Neste sítio, algum emprego deve ser criado, principalmente no turismo. Como para o turismo é preciso pouca qualificação, as escolas públicas mesmo nos níveis mais elementares, ensinam um inglês regular; e como este setor precisa de trabalhadores pouco qualificados é suficiente dar salários baixos.

- Para as pessoas que têm formação utiliza-se a flexibilidade, passam a trabalhar mais horas, executam várias tarefas, ou seja, o trabalhador torna-se polivalente. Isto resulta no aumento da produtividade. Por outro lado, não se pode aumentar o preço do trabalho desqualificado. É um erro tornar mais caro este tipo de trabalho.

- Todos os outros trabalhadores, que não consigam entrar no mercado de trabalho, devem dedicar-se a tarefas do setor primário, à agricultura, à limpeza das matas e à jardinagem.

- Quanto ao problema das reformas, como descontam pouco e aumentou a esperança média de vida, vão receber reformas durante mais tempo. Isso vai provocar um aumento da despesa, o que a longo prazo torna insustentável o pagamento de reformas; por isso, para se criar a sustentabilidade da segurança social, as reformas devem ser mais baixas, devem passar para um subsídio complementar de inatividade com um montante fixo, mínimo e simbólico. Isto é a tendência; por isso, acaba-se com o sistema em vigor.

- Mas nós propomos um outro sistema alternativo e acabar com as reformas atuais. Deve pagar-se um seguro-reforma. Por exemplo, numa companhia com uma linha que capitalize 6%, se os mercados funcionarem bem podem ficar com uma reforma de 600 euros; mas podem ficar só com 160 euros".

- Fazemos a apologia do dia da confraternização, comemorado cada domingo. Aí devem ser incentivados o consumo de bebidas alcoólicas e outros estimulantes, para que os trabalhadores sintam alegria no trabalho e produzam mais durante a semana seguinte. A idade limite para esses abusos recomenda-se que seja até aos quarenta anos. A partir daí começam a apresentar sintomas de várias doenças, em apenas alguns meses falecem. Isto tudo para controlar o número de pessoas que chegam à idade da reforma, assim consegue-se assegurar a sustentabilidade da segurança social.

- Vamos adotar certo tipo de medidas, para o que consideramos serem os principais grupos sociais;

- Quanto aos jovens, uma das medidas que apoiamos incondicionalmente é o cheque ensino, para aumentar a competitividade do ensino e permitir financiar os colégios particulares. Os jovens que frequentam as escolas públicas só lá andam a perder tempo. Por isso, é suficiente ensinar só assuntos práticos relacionados com conceitos básicos para integrar os jovens no mercado de trabalho; assim as escolas públicas devem acabar ou só devem funcionar em termos residuais. Deve-se acabar com o financiamento das universidades públicas, porque já temos muitas pessoas qualificadas; e deve-se acabar com as bolsas de estudo para os estudantes universitários: eles devem aceitar trabalhos temporários para financiarem os seus estudos.

- Quanto às mulheres, achamos que devem voltar para casa. As nossas mulheres são castas, obedientes, reservadas, atenciosas, carinhosas, dedicadas...são servas do lar. É este o modelo de virtudes que nós achamos que a mulher tem que cumprir. Ao contrário, a mulher moderna é lasciva, é autónoma e quer ser independente.

- Quanto aos idosos, achamos que tudo o que é velho é mau, já passou do limite. Os velhos são coisas em decomposição, a natureza rejeita tudo o que seja estragado. Não devemos prestar qualquer tipo de assistência aos velhos, só criam problemas, aborrecimentos, chatices e despesas. É um fardo que não podemos suportar, são uma pura perda de tempo.

- As nossas mulheres devem ajudar a proteger os pobrezinhos. É a única forma de praticar o bem. Para aliviar o sofrimento dos pobrezinhos deve-se praticar a caridade, porque os pobrezinhos só devem ter o mínimo indispensável. O objetivo deles é sujeitarem-se e aceitar incondicionalmente o seu modo. Os pobrezinhos não devem ter aspirações, nem devaneios, nem pensar querer ser. Isso não está ao alcance deles.

- Neste sítio estamos num tempo de mudança necessária. Para que possa progredir é necessário manter este caminho e prosseguir com as reformas, para a economia crescer. Isto resulta num aumento potencial da economia que conduz à sustentabilidade da economia... E, também, porque eles aceitam a nossa solução, convencidos que o paradigma da solução final corresponde à verdade dos factos. Assim, se estabelecermos um feixe com certas condições, a ordem natural será reestabelecida.

- Com todas estas condições reunidas achamos que o nosso modelo social é o mais perfeito. Por isso, estamos preparados para tornar a sociedade mais eficiente. No fundo, este é o caminho para a solução final.

- O nosso projecto é baseado na transmutação social e económica e na criação de duas classes: os senhores e os serviçais capachos invertebrados. O senhor manda e o servo executa; só o senhor existe. O formigueiro deve trabalhar para os escolhidos. Quem não se transmutar é eliminado, porque não vão existir condições para a sua subsistência na nova sociedade.

Depois, uma ovação geral.

Estavam todos inflamados pelo espirito de "A Nova Aliança".

No final, Kurt Kuntz, disse para o Martim:

-É bom ver como as nossas ideias lhes comandam a vida!

Fez um brinde

-Arbeit Macht Frei. Sieg heil!

-Sieg heil!

- Hoje é um dia muito especial para mim!

-Então porquê?

Foi por esta altura que o nosso führer passou para a clandestinidade!

- Nós temos as rédeas do poder e legislamos a torto e a direito!

- Martim, meu amigo, se conseguirmos fazer todas estas reformas, caminhamos a passos largos para a nova sociedade ultra-moderna!

- Nós sabemos que temos que provocar o medo; de que não se podem alterar as condições do que está determinado pelo nosso plano. O que está estabelecido deve permanecer.

- Daqui a dois meses vamos dar início às comemorações dos sessenta e nove anos do primeiro bombardeamento da cidade de Londres por uma bomba V-1 alemã! ah!ah!ah!

Mas o "segredo" de Kurt Kuntz nem era o facto de ele ser o comandante da Ordem de Adamir, nem de ser o principal mentor para instaurar de novo uma sociedade dominada pelos investidores de sucesso empreendedores e inovadores com tendências liberais, no espaço sul.

Era ele quem controlava o fluxo monetário dos mercados, porque tinha ficado com o "ouro nazi" e tinha sido ele quem ficara com os resultados das experiências médicas nazis.

Era ele quem controlava a riqueza e a saúde.

Por isso, era tão importante continuar a manter as condições para assegurar a continuidade da existência pacífica de Kurt Kuntz. Nenhum obstáculo se deveria deixar levantar contra essa normalidade. Tudo deveria ser feito para preservar esse conservadorismo autoritário baseado, numa sociedade hierarquizada e numa segregação social opressora do racionalismo e liberdade individual.

O grupo do Martim queria fazer as reformas, mas não conseguia concluir as medidas. Conseguiram parte dos seus objetivos, privatizar tudo o que foi possível; mas não conseguiram acabar com o principal problema económico que era:

-Reduzir ao máximo o custo elevado do trabalho!

Por isso, passado algum tempo chegou outro grupo da Alemanha. Era um grupo ainda mais poderoso; veio para restaurar a ordem. Também era um grupo trino e os acéfalos continuavam a insistir no muito trabalho que ainda era preciso fazer; mesmo assim, a maior parte do plano estava concretizado, faltava um detalhe, era preciso fazer a reforma principal:

-Eliminar do circuito económico o custo com o fator trabalho.

Um investidor brasileiro foi ao ministério da economia levantar o caderno de encargos para a privatização de um banco.

Já tinha comprado, por uma bagatela, um grupo de comunicação social português. Ficou com uma participação de 60% num grupo; conseguiu ficar com uma televisão, com uma rádio, quatro jornais, um centro de I&D, uma frota automóvel de 200 automóveis, desde carros de luxo a camiões de reportagens de exteriores, únicos no país.

-Neste momento não pretendo fazer mais investimentos, mas se for um negócio pouco arriscado e de pouco valor talvez...

Martim continuou a tentar convencer o multimilionário brasileiro.

-Está bem, ofereço 8 mil milhões pela refinaria e 2 mil milhões pelo porto de Sines.

E persistiam na tentativa de convencer o multimilionário Brasileiro Luís Henrique a realizar o negócio.

- Está bem! Ofereço 10 mil milhões pela refinaria e 2mil milhões pelo porto de Sines.

Estavam tão ansiosos, provocada por tanta avareza, que ficaram sem qualquer tipo de discernimento.

-Ufa, livramo-nos de mais dívida!

-Fizeram o favor de ficar com as duas coisas, porque não valiam nada, só tinham dívidas. Por isso, 12 mil milhões foi suficiente!

-Isto vai cair que nem uma bomba contra a oposição!

-Aqueles esbanjadores, que andaram a brincar com o nosso dinheiro!

-Vamos poder pagar parte da dívida e entrar no circuito financeiro outra vez!

O multimilionário Brasileiro enviou um email conforme a regra de Bernardo de Claraval, para os outros membros do grupo do atlântico-sul.

- Pela fraternidade!

Passadas algumas semanas assinaram finalmente o contrato da privatização da refinaria e do porto de Sines. Decorreu de uma maneira muito discreta, ao final da tarde, no ministério da economia.

Tudo o que tinha sido construído com o esforço comum ia ser vendido ao desbarato, estavam a vender tudo e a realizar dinheiro, a desmantelar uma sociedade organizada e a voltar a um sistema de terra queimada, e os irredutíveis achavam que assim é que era.

Tinham vendido a última e mais importante parte do país.

Perguntaram a Martim D`Alcântara, que era o homem que eles utilizavam para estraçalhar, aniquilar tudo, se estava contente por ter apadrinhado aquele acordo.

Respondeu que sim.

Se era a favor dos bons costumes, severos e tradicionais e da ordem natural.

Respondeu que sim.

E se era a favor de uma punição exemplar para os comportamentos contra-natura.

Respondeu que sim.

Um outro convidado que estava ali perto e também era médico psiquiatra detetou imediatamente uma caraterística anómala em Martim D`Alcântara: ele enquadrava-se no tipo de mitomaníaco. Teve a mesma atitude, o mesmo comportamento e o mesmo tique habitual quando dizia mentiras; estava a cometer perjúrio, mas já não era relevante ... com ele era sempre assim.

Estavam três elementos do grupo atlântico-sul, o professor Jean-Luc Durand, o multimilionário brasileiro Luís Henrique e o tio de José Maia Santiago, Tiago Mendes.

-O nosso amigo é um homem impressionante!

Procuravam reconfortá-lo

-Compareceu na mesma a um acontecimento tão importante como este para o nosso destino!

-Sim, apesar de ser a data em que faleceu a sua sobrinha!

-Faleceu numa explosão...

Martim D´Alcântara estava por perto e ouviu; aproximou-se do pequeno grupo, viu uma fotografia de Raquel, ainda pequena com a mãe. Estavam as duas a brincar na praia de Matosinhos.

Percebeu que tinha pedido para assassinar a própria filha.

A notícia da morte da filha, com essa sua vontade de provocar o momento, ou melhor, conseguir colocar o outro perante um problema para o qual não tem solução, é como desmaterializar a capacidade do outro de atuar: era isso que ele pretendia alcançar.

Começou a sentir-se mal, entrou num estado de euforia descontrolada, o que desencadeou nele o aparecimento do síndrome de torqueler.

Martim era portador do síndrome de torqueler.

Era um lunático, acreditava exageradamente nas suas qualidades, tinha a mania que era muito poderoso, um super-homem; e tinha a presunção de saber muito. Mas a caraterística que ele considerava fundamental era o facto de pensar que era muito temido, o que o levava a achar que era possível estraçalhar, exterminar e aniquilar os seus inimigos.

Desmaiou

Passados alguns minutos voltou a si.

Recuperou de novo e, passados alguns instantes, já estava outra vez, insensível, como se não tivesse acontecido nada.

Mas o que se passou no fim da sessão da assinatura do contrato iria tornar-se um acontecimento memorável para a história da Ordem de Adamir.

Nesse momento, um jovem tentou chegar perto de Martim D`Alcântara, mas os seguranças reagiram prontamente e controlaram aquela situação. Mas um outro rapaz conseguiu e surgiu de frente para Martim D`Alcântara e disse-lhe:

-Eu sou o profeta ziklon!

-Tu não fizeste cumprir o ponto 25 do programa do partido!

Apontou e tentou espetar-lhe um estilete, mas Hans Fritz interpôs-se. Foi tudo tão rápido que só viram Hans Fritz, de fatinho branco, cair desfalecido.

O multimilionário brasileiro Luís Henrique pegou nele e virou-o para cima.

Os olhos azuis abertos, fixos, pareciam de vidro. Já não respirava.

Sentiu o corpo dele leve e mole.

-Que exu esteja com ele!

-É um espírito atormentado. O mais obsceno dos fingimentos é querer ser quando já não se é; quando se quer transformar tudo em irrevogável e, afinal, não há nada; quando se insiste no esforço que não dá em nada!

- O demo foi-se, aqui e agora. Já não há lugar a mais enrabichamentos.

Foi o primeiro pervertido a tombar como mártir da causa de extrema-direita liberal ultra-ortodoxa mais reacionária.

No fim-de-semana combinou encontrar-se com a velha amiga da sua mãe, companheira inseparável da sua mãe.

Foi passear com ela para a frente marítima da cidade.

Viu dois corvos a voar depressa. De repente, fizeram voo picado e pousaram perto de uma gaivota morta em decomposição.

Ali perto surgiu um mergulhador. Trazia uma estatueta com a forma de uma águia com duas cabeças. Diziam que estavam ali próximo os destroços de um barco.

As duas eram a energia do grupo, a amiga da mãe tocava baixo e compunha as letras das músicas.

Primeiro estiveram a falar sobre futebol, Manoel de Oliveira e Eduardo Lourenço, sobre os problemas mais importantes da vã glória de mandar e do desassossego que provoca a saudade.

Pararam para tomar café.

Do seu lado direito estava um casal português;

- Assim é que estamos bem, mas ainda aguentamos mais!

- E vamos continuar a confiar neles!

Outro casal, já idoso, de judeus alemães, que conseguira fugir à guerra, estava a ouvir e depois comentou entre si:

- Estás a ver aqui!

E o senhor mostrou uns números gravados no braço, perto do pulso.

Já não me lembro de ver gente assim desde Auschwitz!

Respondeu a mulher:

- São piores do que os guardas de Auschwitz!

- Quarenta anos não é o mesmo que quatro; esta fauna assimilou mesmo os modos dos serviçais capachos invertebrados. Está-lhes mesmo na massa do sangue!

- Exatamente iguais aos nossos. Depois, quando vão a julgamento, o assunto não lhes diz respeito, não sabem de nada, não conhecem nada, não assumem as responsabilidades; mas decidem sempre tomar uma solução mais fácil, não se esquecem da capsula do encaminhamento.

A amiga da mãe estava apreensiva e disse-lhe:

Sabes, é o fim do homem capitalista!

É uma questão de interesses, de moldagem da sociedade pelos valores da arrogância, prepotência, avareza, mesquinhez, hipocrisia, cinismo e masoquismo!

No fundo, o homem capitalista pretende uma economia de mercado livre, privatizar tudo, desregulamentar os direitos do trabalho e acima de tudo uma desigualdade social que para eles é natural!

E é apoiado por este género de gente!

Porque, como eles dizem, os recursos são escassos, por isso há que saber aproveitá-los !

Estava agora claro como era o modelo económico que eles pretendiam impor. Ao percorrer de novo o caminho, junto ao mar, julgou perceber o sentimento das pessoas. A imensidão do horizonte atenua o sacrifício, o perigo do desconhecido que espreita por todo o lado amedronta estas gentes que se resignam à sua sorte por mais adversa que ela seja; mantêm-se paralisadas a sofrer. É o destino.

Começou a fumar e continuou a caminhar pela estrada e sentiu que, sim, o negrume voltava a instalar-se.

Mais uma vez sentiu que estava perante o fim do longo ciclo de Kondratiev; regressava à origem, estava de novo no mesmo estado.

Os primeiros anos começavam, de novo, com um ciclo de destruição das conquistas de bem-estar social geral.

Mas será que campos de concentração e toda essa ideologia politica nazi-fascista está certa?

São defensáveis regimes como esses e como o apartheid e forças policiais como a pide e a gestapo?

Será que é melhor existir racismo, xenofobia e segregação social?

E ter, ainda, os perversos a aplaudir para que assim seja, condenando a outra parte da sociedade à miséria porque, assim é que está certo?

Será que os perversos conseguem ganhar novamente o seu reino na nova verschwinden land?

Temos que caminhar inexoravelmente para a solução final... ou existe outra solução? Será que eles vão ganhar?

No dia 5 de Outubro de 2013 fez a viagem para a herdade do seu tio, Tiago Mendes.

Quando chegou já era noite, embora ainda estivesse calor. Ao longe ouvia-se o barulho do mar, parte da Herdade da Provença começava junto à praia e estendia-se pelo interior. Apanhava aquele calor seco com o cheiro característico das terras alentejanas. A norte chegava ao porto de Sines, era uma herdade com 400 mil hectares.

A casa do seu tio estava construída ao estilo árabe, com uma fonte no centro do pátio e varandas viradas para o interior; de um lado, uma sala, uma biblioteca, um escritório, uma sala de jantar grande, uma cozinha com uma despensa, onde ele conservava os géneros alimentícios que trazia da Terra Santa.

Do outro lado, uma parte com uma piscina interior, sauna e banho turco e um balneário e, outra parte, com um ginásio, onde ele tinha um pequeno oratório com a imagem de S. Paulo.

No andar de cima, quatro quartos, uma das paredes com janelas grandes, que davam para um terraço com um murete à volta.

O telhado plano com um muro à volta, nos quatro lados.

Numa das salas, o seu tio fez o escritório. Numa parte da estante tinha um armário com uma vitrine com as comendas, a insígnia da ordem militar de Cristo, uma pedra grande em bruto, um triângulo grande com um delta, com uma iluminação própria que fazia aparecer a estrela de David.

Atrás da secretária, na parede, tinha um compasso, um cinzel, um malhete, um nível, um fio de prumo e um esquadro. Na secretária tinha o sinete dele, com dois cavaleiros em cima de um cavalo.

Nas portas dos armários dos móveis tinha gravadas figuras de acácias. De cada lado da secretária tinha uma coluna. O chão do escritório era em mosaicos cerâmicos quadrados pretos e brancos.

O seu tio era o maior industrial nacional do setor das madeiras. As suas indústrias de pasta de papel, derivados de madeira e cortiça, contribuíam com 5% do PIB nacional.

Era uma daquelas pessoas que tudo vê e tudo sabe, era um alquimista, conseguia transmutar tudo, desde metais até sentimentos. Passava sempre um mês por ano em São João de Acre e fazia um retiro espiritual na cidade velha de Jerusalém, junto ao Templo de Salomão. No Natal ia para a sua casa em Tomar, no Dia de Natal ia para o Convento de Cristo rezar com os outros irmãos.

O seu tio mandou matar um boi e fazer uma festa.

Andava no jardim a ver como estava a ser preparada a festa.

Escolheu um vinho de 2005 para dar na festa;

"celebrava-se" a partida de Raquel, o dia em que ela se libertou do sentido da sua curta existência, o atentado foi cometido fazia já 7 meses.

O terreno da herdade terminava e começavam as dunas, estavam perto da praia. Ao longe via-se o terminal sul do porto de Sines.

O tio estava sorumbático, com uma certa tendência para a melancolia, como a luz amarela pardacenta do fim de tarde:

- Assinámos um protocolo na igreja da natividade!

- Assinaram!

-Sim, eu e mais os nove cavaleiros do grupo do atlântico-sul. Luís Henrique do Brasil, Ivan da Rússia, Pepe de Espanha, Giuseppe de Itália, Adónis da Grécia, Petko da Bulgária, Jálo da Guiné-Bissau, Marcos de Angola, Reinaldo da Venezuela.

- Temos um sonho! Vamos construir a Nova Lisboa, desta vez!

Através da política dos 5 V's!

Vamos fundar uma companhia petrolífera: - a Molay Oil Company!

Vamos utilizar o porto de Sines, que é um porto de águas profundas, onde podem atracar super-petroleiros, para abastecer a refinaria!

Vamos construir um entreposto na Guiné-Bissau; o petróleo que vem de Angola, Brasil e Venezuela é transportado em petroleiros mais pequenos, que são mais rápidos, até à Guiné; aí, faz-se uma escala e acumulam-se enormes quantidades de crude que, depois, chegam a Sines em apenas alguns super-petroleiros.

Vamos também fazer reservas muito grandes de petróleo, para, de alguma forma, conseguirmos interferir na variação do preço do petróleo, assim os outros nunca sabem o valor da nossa produção.

Vamos desenvolver a indústria do mar, com uma forte componente de indústria química. Há matérias novas das quais podemos desenvolver novos produtos, com melhor qualidade

Mas a obra principal é a construção de um oleoduto de Sines até Khrasnodar.

Por último, uma medida mais extrema: vamos fazer um embargo aos países do norte da europa. A nossa ideia é cortar a fonte de energia ao lebensraum e, de alguma forma, tentar isolá-los no mundo deles".

Queriam alterar por completo as circunstâncias. Abrir lugar a um novo caminho.

Queriam dar lugar a uma nova alternativa.

No entanto, parecia preocupado;

-Este mundo deles!

Exclamou e continuou:

-Podemos lutar, mas acabamos sempre por tomar uma decisão no sentido do que é o lado bom da força, porque há uma força superior que nos conduz para o caminho do justo.

-Ninguém pode impor um comportamento que seja contrário ao livre arbítrio de cada um, determinado por uma força superior à nossa vontade!

Tinha consigo um livro, com o título de "O Pentagrama", de um monge do Convento de Cristo, que esteve três anos em Baalbek.

-Há um caminho a percorrer, que nos conduz à nossa finalidade, ao nosso destino.

- Para se atingir a harmonia é necessário deixar fluir o conhecimento e não querer impor a avareza, a hipocrisia, o cinismo e a mesquinhez;

-São essas pessoas que têm esses vícios, que controlam o lado perverso do caminho; com a crença deles, que é alimentar o lado negro da força eliminando a biodiversidade; que só causam discórdia e miséria!

Enquanto não se descobre o sentido do humanismo, é o caos.

-Só quando se passar para o próximo pilar:  A Fraternidade; é que haverá harmonia universal e deixará de haver esse jogo natural que só resulta em desigualdade social e miséria.

-O próximo encontro vai começar junto ao memorial do holocausto!

-Vamos queimar uma amostra desse pó pernicioso, o ziklon!

O ziklon era conhecido entre eles como o elixir da viagem para as trevas.

-Sabes, é preciso manter a luta por mais justiça social, ordem e progresso; e acabar de vez com os anjos da morte!

-Olha quem vem aí!

-Olá Sofia! Olá Anna!

Vinham as duas de mãos dadas, vestidas de branco, com chapéus de abas largas onduladas.

Ana Haikonen foi a um workshop de karaté:

- Não quero que façam mal à minha menina!

Quando Sofia viu Petko começou a chorar.

Petko era da tribo dos bogomilitas, que viviam na Trácia; disse a Anna que Sofia estava a atingir o nirvana, estava quase a conseguir quebrar o ciclo das reencarnações, que Ágape estava com ela e que era preciso acreditar e ter muita coragem.

Sofia chamou José Maria Santiago à parte e disse-lhe:

- Estou com cancro da mama, vou falecer!

Sofia e Ana estavam a viver no Algarve.

Tinham arrendado um apartamento em Ferragudo.

Em frente tinham uma panorâmica completa do rio arade e de toda a cidade de Portimão.

Estavam no terraço, num pequeno sofá, Sofia estava exausta com mais um tratamento, tentou adormecer, no colo de Ana.

Ana ouvia ao longe um murmúrio, à sua frente via a cidade branca, o traço azul largo do rio, atrás das casas descia o sol grande, redondo e vermelho. A luz ia enfraquecendo, tornava-se de um cinzento baço, provocado pela neblina.

Passadas algumas horas, Ana disse-lhe:

- Vou fazer um pouco mais de chá para recuperares forças!

Pegou no telemóvel e telefonou para o médico: tinha chegado a hora!

José Maria Santiago não conseguia dormir, continuava tenso; estava apreensivo.

Mais uma vez estava preparada uma noite de cristal. Agora queriam fazer aprovar uma constituição só com vinte e cinco artigos; mais uma vez a assembleia nacional tentava proceder à aprovação da constituição mais pequena de sempre.

José Maria Santiago veio para terminar o trabalho de investigação da sua irmã.

Estava certo do que tinha acontecido. Conseguiu apurar o que tinham executado (a austeridade), quem o tinha feito (a ordem de adamir), mas só não conseguia perceber o que é que a ordem de adamir tinha utilizado para concretizar os seus objetivos.

E colocava-se outro problema: - porque é que havia tanta resistência à mudança?

Voltou para o computador.

Ficou algum tempo a olhar para o ecrã do computador; já tinha experimentado vários códigos, até que parou, esfregou os olhos e procurou apanhar o resto de concentração que lhe restava. A sua irmã deixou no ambiente de trabalho uma fotografia com os livros.

Ela partiu da seguinte condição:

Livro 4 - um novo contrato social

Livro 9 - um novo combate, através da austeridade

Livro 10 - uma nova ordem, uma nova sociedade: - mas para quem?

Frau Muller enviou-lhe por correio um objeto.

Quando viu o que estava dentro do embrulho ficou admirado. Encontrou um aparelho igual aos modernos tablets, só que de 1946.

Era o primeiro computador alemão de Konrad Zuse.

Quando ligou o aparelho, apareceram as letras ENIGMA - Z3 e começou a ver as gravações das experiencias do dr Mengele.

No último vídeo era apresentado o CAP VI.

Era verdade, eles tinham utilizado novamente o Ziklon - CAP-VI (serviçal capacho invertebrado).

José Maria Santiago descobriu uma nova estirpe do vírus serviçal capacho invertebrado, mas não conseguiu fazer a ligação; por isso, sentiu algumas dificuldades em comparar com os resultados das amostras que tirou a Kurt Kuntz e a Martim, que estavam impregnadas com o vírus Ziklon - CAP-VI - o vírus serviçal capacho invertebrado, mas só que das primeiras doses que foram utilizadas por isso, como tinham mais tempo de actividade, estavam diferentes, mais resistentes e mais desenvolvidas.

Pelos estudos que tinha feito, principalmente pela consulta de um livro que o seu prof. Jean-Luc Durand lhe tinha dado " As Propriedades Físicas dos Compostos Químicos", um livro de um alquimista do século XIX, ligado a uma loja maçónica francesa, muito amigo de Marie Curie, a quem sempre incentivou nas suas investigações, descobriu que o vírus surgiu em 1928 e foi testado antes da segunda guerra mundial.

Havia uma teoria de que esta população só se conseguiria controlar através de uma ditadura. Por isso, logo a seguir a 1928, o governo português pediu aos alemães um vírus para inocular na população. Então, juntamente com o óleo de fígado de bacalhau, administravam um comprimido com uma substância: o Ziklon-CAP VI - que era um composto formado por três químicos; o polónio, o chumbo e o mercúrio

Era o polónio que provocava a mutação, essa alteração, surgindo assim, um comportamento social típico.

Com as informações do trabalho da sua irmã Raquel e com a ajuda de Anna, juntou as peças e obteve o resultado, conseguindo descobrir o enigma do código 4.9.10 - CAP VI 

e percebeu que eles controlavam uma arma muito poderosa:

- O homo salazarentus; que acredita no principio de que não somos todos iguais e não temos todos as mesmas capacidades; no homem de boas contas, no rosário dos puros e de muito trabalho. Para além de ser extremamente intransigente, irredutível e ortodoxo é um ser que permaneceu obtuso, obediente e resignado.

O vírus, na sua última fase de evolução, vai transformar o homo salazarentus num ser de tal forma pré-formatado que o seu pensamento é dirigido para provocar um determinado comportamento social característico, um comportamento cínico, hipócrita, falso, severo, rígido, inflexível, irredutível e persistente. Inclina-se a pensar e a agir como um lambe-botas, um capacho; a sua caraterística principal é ser servil.

José Maria Santiago conseguiu estabelecer a solução; o plano era executado através da austeridade cobrar com juros usurários, de uma forma repentina, o dinheiro emprestado, através dos impostos; que por sua vez provoca desigualdade; que precisa de um terreno fértil e que só foi possível crescer com a cumplicidade do homo salazarentus; e que isso provocou uma situação comparável ao holocausto.

Essas forças que atacavam, estavam a moldar, outra vez, uma nova cultura social, aproveitando o comportamento dos valores tradicionais dos conservadores de extrema-direita: - o trabalho liberta!

Era a consumação do ressurgimento desse facto incontestado:

- O milagre económico do homo salazarentus!

Chegou à conclusão que aquele sítio estava a servir de modelo de ensaio. 

Depois de um estado novo, seria uma sociedade nova de mercado. Já estavam escravizados, sem o saberem. Iriam ter uma vida normal, condicionados a produzirem o rendimento necessário para pagarem os juros intermináveis da dívida, porque os investidores tem que continuar sempre a ganhar.

Os que querem impor a sua condição severa pretendem estabelecer, uma vez mais, uma sociedade baseada na existência de dois estratos sociais, os ricos e os outros, os pobres, seres inferiores, escravos. Só os ricos têm o direito a uma vida digna e acesso aos bens, enquanto os inferiores dos pobres vivem uma vida miserável e têm uma existência controlada para sobreviver e trabalhar para os interesses desses poucos. A miséria criada para uns não é um problema, é um modo de existência.

Estava profundamente consternado com o facto de uma parte da população daquele território ter aceite terminar com a sua condição; transformaram-se em servos executores da vontade dos investidores.

Aquele sítio encontrava-se num estado comatoso, a caminho de um estado terminal, em vez de estado social; e os que ali ficam, entram num ciclo de sacrifícios inglórios, de depauperização e de miséria.

Aquela população fazia parte do primeiro país europeu a extinguir-se no início do século XXI. Cedeu a sua soberania para assegurar que os valores tradicionais da extrema-direita seriam perpetuados.

Eram tempos de uma decadência profunda.

Mesmo assim, José Maria Santiago e Anna Haikonen iam iniciar mais uma luta pela justiça social.

Os dois companheiros, juntos, iriam reerguer o espirito do humanismo e o modelo de Franklim Delano Roosevelt, contra essa fúria destruidora, a teoria de mercado imposta pelos investidores de sucesso empreendedores e inovadores com tendências liberais, agentes portadores do vírus do mercado o "expeculativus" e o seu mecanismo de ajustamento natural, atuando através da propaganda com as suas técnicas da manipulação da vontade das massas, que procura criar a desigualdade social natural.

Iria ser uma luta titânica contra os anjos hipócritas e avarentos, emissários de uma vida miserável.

Para tentar convencer que o sol brilha para todos!

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